quinta-feira, 24 de julho de 2014


Hauhsuahsuashua
Uma vez, num episódio do Batman (aquele que passava na TV, lá pelos idos de setenta e poucos e que era estrelado pelos atores Adam West e Burt Ward), o Charada armou uma parada federal para o homem morcego. Deu um nó humano que envolvia mortalmente o Batman, o Robin e a ‘Batguel’. O capítulo terminava com aquela cena sufocante. Os três heróis emboletados e, segundo a descrição da artimanha, feita pelo malvadão do Charada, não podiam fazer o mínimo movimento pois que se o fizessem,  provocariam um colapso dos órgão internos e morreriam asfixiados. O que acontecerá? Não percam o próximo episódio, atiçava o narrador com uma música pessimista de fundo.
No dia seguinte, a molecada da rua tava num pé e noutro pra vizinha abrir a janela, para se aliviar um pouco do mormaço da tarde, e nos propiciar o desfecho daquela presepada. O programa começava com as cenas do capítulo anterior, dava o reclame, e depois reiniciava mostrando aquele bolinho de super-heróis encalacrados. Todo mundo na torcida, para o afogueado da tarde continuar e consequentemente, a vizinha permanecer se espairecendo com a janela aberta e para o paladino de Gothan City arrumar uma saída para aquela armadilha fatal.
A sequência jamais saiu da minha cabeça. Não poderiam envidar qualquer movimento brusco, senão ploft, apagariam para sempre com falta de ar. O Batman, então, arrumou a solução (depois, é claro, de muitos exercícios de lógica, de reflexões sobre a fisiologia humana, e de um resgate mental criterioso sobre todos os tipos de nós registrados no manual do escoteiro mirim). Instruiu, com palavras custosamente articuladas no canto da boca, o garoto prodígio Robin, para que movimentasse muito lentamente a falangeta do dedo mínimo da sua mão esquerda (que estava não se sabe bem aonde), enquanto ele, ao mesmo tempo flambaria a orelha direita, valendo-se da alta flexibilidade do material com que era confeccionada a bat-máscara. À batguel, caberia sincronizar a sua respiração na mesma freqüência em que a bat-orelha do nosso herói vibrava. Música de suspense. O que acontecerá? Um instante depois os três desabam um para cada lado, livres do nó mortal. Éraste, a galera vibrou e a vizinha fechou a janela porque achou que aquela alegria já estava virando uma algazarra de intenção irônica e poquista.
Lembro sempre deste episódio do Batman, quando estou teclando na internet e recebo de volta uma coisa assim ó, ‘hausuahsauas’. Bom, ou é quase isso. Não consigo reproduzir esta construção fielmente. Mas é um casamento de ás,  agás, ús e ésses que procura simbolizar um sorriso ou uma alegriazinha passageira de quem está teclando. Com os meus filhos, ou com amigos mais novos, no msn, sempre recebo um retorno com esta arquitetura. Aí, bateu a curiosidade. Perguntei para alguns se eles digitam isso ou já tem um comando pré-moldado para o trançado de letras (porque olha só, é difícil. Procuro aqui no teclado e vejo a distância entre os tipos. Pô, isso nos bons tempos seria digno de um exercício bem caxias, na aula de datilografia da professora Mariazinha).  Mas tentei, outro dia, sob a supervisão de uns quantos instrutores, eu tentei. Um dizia: “divide o teclado. A mão esquerda sobre ‘a’ e ‘s’, e a direita sobre ‘h’ e ‘u’, vai lá”. Outro desafia: “agora clica na seqüência”. Mas quando, já! Um mais impaciente já avacalha: “clica em todos ao mesmo tempo”. Desisto. Nem a professora Mariazinha conseguiria. Lembro do Batman,  tento flambar a minha orelha esquerda e entro no Google para saber qual desses ossinhos da mão é falagenta, quem sabe me adianta de alguma coisa. Oh, meu Deus, cadê meu manual de escoteiro?

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