sábado, 7 de janeiro de 2012

crônica da semana - estralar

Se a farinha ‘estralar’...  

Um camarada ibero-europeu veio passar o fim de ano comigo, em Belém. Gente boa pacas. Amigo. Fiz as honras pr’ele. Virei e mexi pelos causos da cidade. O que eu sabia, eu contava direitinho, como por exemplo, os detalhes da fundação de Belém expressos na Cidade Velha. O que eu não sabia, inventei um pouquinho, mas sem exagero e sem culpas (quem mandou roubarem a placa explicativa lá da rampa da Panair?). Buli nos teres e haveres desta metrópole e a tratei como tal. Atinei aos ‘dares e tomares’ desta minha Belém ao mesmo tempo vil e generosa (meu amigo aproveitou o que pôde desta generosidade. Vai voltar para a sua terra com a sacola assim de manga, ó, que ele catou pelos estirões que passamos; mas ao mesmo tempo, decepcionou-o um tanto, a nossa falta de cuidado com componentes históricos pitorescos, como a rampa da Panair).
Mostrei lugares legais da cidade (não exatamente aqueles mais engalanados, mas os meus cantinhos, aqueles sem os quais não passo). Veropa, na certa. O largo extenso do Teatro da Paz, é claro. As docas refrigeradas, por que não? As igrejas mais bonitas do Landi, indispensáveis. Os bosques verdes onde cantam os sabiás, de toda sorte, agradáveis. A Vila Sorriso e a minha Pedreira, do samba e do amor.
Sobre Icoaraci, vale a pena um teretetezinho, no repente. Nada que me seja estranho. Houve de acontecer outras situações graves e amiúde, comigo.
Fui até o chalé Tavares Cardoso. Era sábado e entendia o recesso e o descanso dos obreiros dali, mas nada que apagasse a memória ou o senso. O prédio é suntuoso, elegante. Só que cheguei fotografando a rua, concentrado e quando dei por mim, estava de través, meio na contramão. Havia passado pelas ruínas da casa do poeta Antônio Tavernard e recebido o severo choque do abandono. Submergi desconcertado de tanta desolação e desapontamento com o trato que dão aos nossos patrimônios artísticos. No chalé, atualmente, funciona a biblioteca Avertano Rocha. Isso eu sabia. Mas só de zanga, perguntei ao guarda, que guardava o prédio, assentado no amplo alpendre, onde ficava o famoso chalé. Ao que ele me respondeu que ali era uma biblioteca, que estava fechada, naquele dia e sobre este chalé, aí, não sabia pra que lado ficava, não. E fui caminhando e ouvindo, dando trela, até ficar de conforme com o sentido da rua, quando me virei e dei de frente para a monstra d’uma placa que anunciava ali, o tudinho da resposta requerida ao guarda. Tudo lá escritinho.
Icoaraci é um lugar pra lá de pai d’égua. Tem potencial turístico. Tem a mimosíssima taberna da Suely, bem na entrada do trapiche; tem uma orla atraente; um parque de artesanato estrategicamente postado no alto das falésias. Precisa se preparar para informar melhor os visitantes. E aquele túnel de mangueiras...
Agora, sobre a Pedreira...mostrei mais emoção do que construção. Mesmo porque, o cinema Paraíso, não existe mais. O café Século XX, já era. A sede do Santa Cruz transubstanciou-se. O Supermercado Metralhadora, aquele que metralhava os preços, é hoje um grande vão em vão. Fomos bater na Feira, então. E eu cuidei de ensinar, detalhadamente, ao meu amigo, que veio da Galícia, como é que a gente faz para experimentar a farinha. A mão em concha assimilando o tantinho certo, a distância correta, a força de lançamento e a pequena elevação do queixo para que a farinha deslize obediente e se acomode entre os dentes. Se ‘estralar’, é das boas. Depois de conhecer as coisas que não mais voltam na Pedreira, eu e meu amigo fomos tomar uma gegé, no balcão do Pisco, porque o sol estava demais aquele, na Pedreira de Belém.

Um comentário:

  1. oi sodré, Belém tem lugares lindos mesmo, pena que um pouco mal cuidados. mas, tenho certeza que seu amigo gostou do passeio!!!

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