quinta-feira, 28 de abril de 2011

Crônica remix- Perdão

Não se surpreendeu quando o carteiro chamou pelo seu nome, lá do portão, aperreando-se para salvaguardar o envelope dos chuviscos de uma manhã de abril.

Confirmou o subscrito. Rasgou, desregradamente, o envelope, acomodou-se no sofá. Reconheceu ali um pedido sincero de perdão e as marcas de um tempo perdido:
“A verdade é um beijo que tem o amargo gosto da dor. Então, perdão, mon amour, pelas deliciosas mentiras seladas com doces beijos. Perdão, mon amour, pelos reluzentes coquetes contabilizados pelo tempo, como frivolidades líricas.
Tenho saudade de ti. A minha boca que te falou febril em tantos sonhos, mas que, acordada, te faltou; a minha voz que tanto sofreu, ansiosa por dizer verdades, e que, reprimida, maldisse em silêncio tantas vezes, as vazias conveniências, agora livre das garras da mentira, te confessa: tenho saudade de ti.
Perdão, mon amour, pela vilania de tantos beijos doces porque, hoje é tudo silêncio e tédio na minha vida sem ti.
Vê o meu mal: meu violão desafina na tua ausência. Meu coração mente dizendo ter a paz. Meus passos forjam caminhos buscando um lugar seguro. Mas que nada! Para meu pesar, a saudade de ti vem ferina, em semitons, em guerras e lágrimas. A saudade vem por vielas atapetadas com as dores da distância.
Minha vida é hoje permeada de ausências. A solidão me abate... No coração, a lembrança triste de um dia em que as tuas mãos se eternizaram, cruelmente, num aceno...(que cena que me tortura,  que me corrói, que me condena a te procurar, arrependido, todos os dias num adeus).
Perdão, mon amour, se a mentira, por anos, se travestiu em enganosos doces sabores. Se o temor verdadeiro de um beijo te trouxe melífluas impressões (que eu sei, que eu sei não serem mais possíveis porque sempre foram irreais).
Tenho saudade de ti e minha canção na noite de lua te chama para um beijo perdido longe na lembrança de um dia feliz, em que me apaixonei pelo brilho  dos teus olhos de mel.
Deus!Quanto mal te fiz! E por que te fiz ser triste? Se eu sempre te quis...Eu sempre te quis.
Perdão, mon amour. Que a saudade me pegou em francês e a minha vida é brisa frágil agora, cuidando, cuidando para não se quedar ao tempo ruim.
Ai de mim que te perdi.
Pelo doce dos beijos que te dei, perdão, mon amour, Perdão.”
Largou a carta sobre o sofá e saiu para cuidar da vida. Ponderando, sim, as mínimas, as rarefeitas possibilidades de um perdão. Pesando, sim, as chances de um perdão, mas ao mesmo tempo, perguntando-se se algum dia iria entender um tantinho sobre essas coisas ininteligíveis do amor.

4 comentários:

  1. Isso me fez lembrar de hoje, quando perguntaste se eu tava brava contigo... =D
    Um beijo!

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  2. CASO o amigo não se importe, pretendo reblogar as suas crônicas em meu blogue. É uma espécie de homenagem. Já o faço de outros, com a devida autorização.
    Um abraço.

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  3. o amor não foi feito pra ser entendido, infelizmente. às vezes acho que ele nem foi feito pra nós mortais. caiu aqui no planeta, por acaso e a gente ainda não sabe como usar.

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  4. muito bom *-*
    "Vê o meu mal: meu violão desafina na tua ausência. Meu coração mente dizendo ter a paz. Meus passos forjam caminhos buscando um lugar seguro. Mas que nada! Para meu pesar, a saudade de ti vem ferina, em semitons, em guerras e lágrimas. A saudade vem por vielas atapetadas com as dores da distância." sz'

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