sábado, 16 de abril de 2011

crônica da semana


Amar e outros medos
Quando eu escrevi, na semana passada, sobre aquela prensa que levamos, na igreja das Mercês, por conta do julgamento dos 13 posseiros do Aragauia, quis fazer uma confissão de medo. Naquele dia, não era a fome nem o cansaço que me consumia. Era o medo mesmo que me empalidecia a face.
Não tenho vergonha de dizer isso. Não acho errado ter medo. Tenho pra mim que o medo é uma propriedade ancestral do ser humano e que aprimorada ao longo dos tempos, nos tem permitido perceber perigos ocasionais ou as cismas primitivos. 
Eu tenho três medos clássicos. Dois são de verdade. O outro, invencionice: um lance aí que me impressiona. É um medo meio patológico que sinto do Norman Bates (sabe aquela cena do chuveiro? Pois é).
Os meus medos autênticos têm marcas fisiológicas. O corpo dá sinal. O suor cai geladinho, vem um gosto amargo na boca, o ombro pesa. Fico meio anuviado, também. Tive estes sintomas salteados ou no pacote completo, naquele dia, na igreja das Mercês, e uma outra vez quando encarei um armário deste tamanho na minha frente querendo porque querendo tirar uma satisfação comigo por causa de umas questões, digamos assim, passionais.
O grandalhão era um ex da minha namorada, mas não largava do pé dela. Eu era um bebê, na época, e nem maldava que por amor, algumas pessoas se abalam a cometer loucuras. E o cara tava a fim. Num belo dia, eu estava de prosa com a pequena, na porta da casa dela, conversando socialmente, espairecendo, quando de repente, do nada, o camarada apareceu. Parou na beira da calçada e ficou ali se equilibrando ‘pouquista’, ameaçador. Encarando, como quem diz: “hoje vai ter”. Ele sabia, tinha lá suas fontes, que a pequena tava de prosa com um paquera novo. Mas não sabia que euzinho era exatamente o cara. A sorte é que estávamos comportados, namorando de porta, nada de pegação. Acho até que naquele momento, disputávamos, inocentemente, uma empolgante partida de Ludo, com as crianças da casa. Cedo da noite. Sete horas e uns caroços. Depois de uns instantes, a pequena que não era besta nem nada, disfarçou uma precisão, entrou na casa e levou as crianças. Fiquei eu, face a face com a fera. Ele, tentando pegar no ar (por isso, acho que balançava) algum triscazinho de certeza de que eu era o seu mais novo rival, e eu, me vendo com um gosto amargo a subir na boca, sentido o calor da noite fugir de mim, mas ali, agüentando, não sei como. Ficamos um tempo nos indagando telepaticamente, até que um dos meninos voltou com a recomendação da minha garota para que eu saísse dali o mais discretamente possível porque a coisa tava pegando. Ô, glória! Dei graças ao bom pai por ela ter me liberado daquele expletivo ato heróico e mais que depressa imprimi a retirada. Dobrei no primeiro beco que me apareceu às margens da Dr. Freitas e quando ganhei certa distância é que atinei o quanto tremia. Um amigo que passou por ali, naquela hora, chamou a atenção para a minha cara de espanto, já colorindo: “Ihhh, acho que estás ficando até verde!”, disse ele. Aí o estômago embrulhou e não vale a pena lembrar o que se sucedeu. Tudo, obra do grande medo que senti.
O meu feixe de medos (tirando o do Norman, que me atazana toda vez que puxo a cortininha do box) é até raquítico e explicável. No mais, tenho uma coragenzinha bem presente. Só que não falei daquele que incomoda. O medo que esmigalha a alma. O medo de amar. À natureza deste, acodem-me, pois, os versos do poeta quando proclamam que “o brilho nos olhos de quem ama/é um lampejo, é uma chama/que arrisca incendiar tudo em volta/mas e daí/ se o bom do amor é o risco?”.

4 comentários:

  1. oi sodré, eu morro de medo de várias coisas, como altura, entrar na água (praia, igarapé, mar, rio), escuro,... a vida é cheia de medos!!! bom fim de semana.

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  2. Meu brodi Sodré, que belezura de historia!!
    Mande mais umas mil pra nois ficá mai filiz!!!
    Um abração!!!

    Sergio Souto

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  3. Eu acho que meu maior medo, desde pequena , é amar... Justamente por pensar nas consequencias, pre supondo um desatre de mim.
    =/

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  4. Kkkk historia boa essa. Não tenho medo de amar pq amo toda hora. Tenho MEDO é da convivencia!

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