sábado, 10 de julho de 2021

crônica da semana - joelho de vidro

 Joelho de vidro

Tava no zap o convite da turma do vôlei. Respondi para me incluírem fora da próxima. Joelho inchado. E pesarosamente vaticinei que já deu pra mim.

Das artes do mundo que se esvaem de minhas posses, a que me dói muito, tanto no sentido figurado quanto na vera é não poder mais praticar meus esportes favoritos por causa do joelho bichado.

O convite da galera para o vôlei, com este metro e meio que me define, parece até pilhéria vã. Causa impressão de retórica resiliente. Ocorre que desde a Escola Técnica, me enxiro. Entro no meio dos bons, dou umas manchetes de rumo certo pra segunda bola na caté, uns saques tipo tênis indefensáveis. E me esforço como levantador. Essas peripécias me garantiram vagas nas peladas e em alguns torneios de reponsa outrora. Por último, brincava com a turma da rua. Só que agora, parece que cada subida na rede é uma sessão de emigalho no joelho. Faz dois meses que formei minha última grade para disputar dois sets e de lá pra cá, meu caminhar ainda é manquitolado. Apesar da massagem noturna com andiroba e um macerado de folhas várias, ainda sinto o falseio na pisada e o tufadinho incômodo na lateral do joelho. Já deu pra mim. Custo/benefício muito alto: dois sets mancheteando na caté para dois meses cachingando, é conta que fecha no prejó.

Outrossim, no futebol não tem volteios de superação não. Nem barreiras para a baixa estatura. Dou causas justas. Declino experiências, reconhecidos méritos. O Internacional da Mauriti. A minha quase ida para a base do Paysandu.

Naqueles anos setenta idos, embora baixolinha, fazia e acontecia. Era época em que aquele um mais franzino ainda tinha oportunidade de bater uma bolinha entre os grandes. Havia sempre uma vaga nas pontas.

O futebol profissional apontava mesmo para essa alternativa. Goleiro, zagueiro, centro-avante eram posições guardadas para grandalhões. O meio-campo até admitia a turma do um e sessenta. Aqui em Belém me ocorre o Alfredinho; no Rio, o Arturzinho, ambos botando pra chulear na criação de jogadas, na meia cancha, e devidamente mencionados no diminutivo. A maioria, entretanto, flutuava pelas margens. Tenho lembranças do Bimbinha, Naldinho, e o grande Jacozinho que contava com pouco além de 1,60m.

Com o desaparecimento dos pontas, ficou vasqueiro pros liliputeanos. A competição é feroz. As habilidades exigidas muitas; e o novo formato do futebol exige cada vez mais envergadura. Tenho prestado reparo no Soteldo, ex jogador do Santos que se destaca no relevo dos gramados. É habilidoso, veloz, tem visão de jogo. Ostenta tipo físico zinho raro no futebol atual. Joga, porém, de igual pra igual com os taludos. Me representa.

Lamento as restrições que o joelho de vidro me impõe. Um trauma no menisco que me tirou do Paysandu, e leva de mim, neste momento de tanta tristeza, a chance de espairecer, de suar, de subir à rede, levantar, rodar, e sacar tipo tênis, desmontando as defesas da turma adversária do vôlei;

Ou de formar no time de futebol de salão do meu filho, e usar as táticas de me esconder dos zagueiros, na banheira, explorar meu talento de chutar com os dois pés, enganar o goleiro que pensa que bato forte, quando na verdade, bato devagar e colocado, e correr pra galera.

Já deu pra mim. A bola ainda me encanta, tento correr atrás dela, mas o esmigalhado empata tudo. E então os dias se sucedem empobrecidos de graça. E se a gente tenta uma menção, a realidade do inominável se intromete e empata tudo também. E haja andiroba.

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