Com os burros n’água.
A
algumas prendas dos dias e das horas, me arvoro, todo prosa, estar passado na
casca do alho. Não raras vezes, tenho dado com os burros n’água. Erro feio.
O
estio do meio pra frente do ano é pauta que me enxiro dominar, e vou além, ensaio
dele me aproveitar.
Agora,
a partir de agosto, é tempo de adiantar aquele puxadinho, remendar a calçada,
dar uma demão com tintas de cores vivas, nas paredes da casa. Os dias mais
secos inspiram também para aquela tão anunciada caminhada matinal, com o sol
saindo mais cedo. Estas tantas artes podem ser diligenciadas com toda a
tranquilidade, sem aquele medo de a chuva vir e estragar tudo. De agora em
diante, a chuva até pode vir, mas é chuva doce, daquelas que vêm só pra sentar
a poeira.
A
época é de empreender. De dar um empurrãozinho no processo produtivo. Fazer
aquele capeamento no asfalto. Traçar planos, levantar barracos.
Foi
o que fiz, há alguns anos, em Rondônia.
Trabalhava
em pesquisa e no verão amazônico era a hora de investigar. Aproveitar as
estradas transitáveis, o nível baixo dos rios e igarapés, o entardecer
esticado. Era o tempo de correr atrás do minério.
Montamos
uma senhora equipe. Reunimos o máximo de equipamentos. Escolhemos uma área com
alto potencial. Tava fácil.
A
mim, me foi dada a missão de ir à frente com uma pequena equipe a fim de
ajeitar um local para montar acampamento.
Na
primeira alternativa, uma boa perspectiva. Mas muito perto da estrada. Muito
movimento. Risco de desconcentrar com as seduções que ecoavam do lado dali, da
cidade. Era o caminho para os mais boêmios atrativos, para os largos folguedos.
Descemos
no rumo do rio. Ali tava fácil.
Depois
de uma subidinha bem inclinada, o barranco descia suave até se conformar num
plano batidinho, limpo, com árvores baixinhas. Nem era preciso nivelar de tão
certinho que era o chão. Limpar, bem pouco. Madeira mais aquela de forte, tinha
logo ali em cima, depois do barranco.
Água, tinha mais adiante, no fim da planura. O rio pr’aqueles lados, corria
farto de água doce e transparente. Tava na mão. O custo era acionar o restante
do pessoal.
Em
pouco mais de uma semana montamos quatro barracos, cobrimos com palhas verdes e
amarelas, levantamos a cozinha, um pequeno almoxarifado, abrimos picada larga
para o rio, para a retrete... para a estrada. Logo, caímos no trecho. Iniciamos
uma grandiosa campanha que seria interrompida nas primeiras chuvas de Dezembro,
porque tudo que parece fácil, no certo e no reto, não é. Há sempre a
necessidade da ponderação e do discernimento.
Ao
iniciar Fevereiro, a água já estava lambendo a estrada e o meu caminho por ali,
só me permitia olhar de longe a cumeeira do nosso maior barraco lá embaixo,
afogada nas águas muitas e alvoroçadas do rio. Fácil erguer um acampamento
robusto, naquele plano. Difícil foi constatar que aquela área era daquele
jeitinho exatamente porque era margem alagável, era planície periodicamente
inundada pelo rio. Difícil foi reconhecer que, tão logo as chuvas chegaram,
afundamos. Literalmente, demos com os burros n’água.
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