Medalha de prata
Tenho um metro e cinquenta e um de altura (era
isso, pelo menos, antes da discreta, mas já percebida perda de sais). Mas
contabilizo sempre um metro e cinquenta, porque este um centímetro não me ajuda
em nada quando tô no aparreiro do ônibus lotado; e alcançar aquela barra no
teto que nos ajuda no equilíbrio, é um recorde olímpico para mim, inatingível,
na hora daquela curva radical. Invariavelmente, rebolo pra cima do povo.
Sou baixolinha. O que, tirando o atropelo de ser
passageiro em curvas fechadas, nos ônibus de Belém, nada mais de desconcerto me
trouxe na vida. Ser pequenininho não me atrapalhou em nada. Muito pelo
contrário, seguindo o critério de ‘do menor para o maior’, sempre me garanti
como o primeiro da fila, na hora da merenda, lá nos idos do primário.
Reconheço, porém, que assumo descabida presunção
e sem querer, estimulo a descrença total na minha prosa, quando relato que
ganhei medalha de prata jogando Voleibol, pelo time do meu curso nos
disputadíssimos Jogos Internos da Escola Técnica Federal do Pará. Ninguém
acredita. Desdenham, fazem gracinha. Caçoam de mim e alguns, sentem-se até
ofendidos por uma potencial mentira cabeluda. Mas, ganhei de verdade. E não foi
culpa minha.
O esporte fazia parte da nossa grade curricular.
Era disciplina que ia do primeiro ao último semestre. Tinha avaliações
complexas. Reprovava. No primeiro semestre, a gente escolhia qual esporte
praticar. Escolhi vôlei, que fora a linha esticada de um lado a outro e um
rebate de bola convulsivo entre as meninas da vila em que eu morava, a mim nada
mais significava, naquele início dos anos 80. A disciplina, na Escola, tinha
método, tinha fim. Tinha os Sérgios (Serjão e Serginho), professores que
colecionavam histórias vitoriosas em competições importantes, e na nobre tarefa
de ensinar os segredos do jogo de ‘bola ao ar’.
Daí a minha presunção. Os caras ensinavam mesmo.
Começava pela teoria. No primeiro semestre, ninguém via a bola. Era pesquisa.
História, fundamentos, regras. A gente escrevia pacas. Eram horas e horas na
biblioteca da Escola de educação Física. No geral, aprendi muito. A quadra veio
como complemento, os mestres, claro, entendiam as nossas limitações. Eu tinha a
coisa do moleque, né. Na hora do jogo, dava sangue. Cortava em parábola, dava
saque neném, devolvia de manchete. Não concorria e nem me comparava com os
grandes craques da minha turma, Jorge Porpino, Jeovam Barroso, Marco Jurandim.
Estes já brilhavam nas seleções da Escola e até do Estado. Eu dava sangue. E
nos jogos internos, pra defender o curso de Mineração, juntávamos o talento, o
sangue, a força. E foi assim que entrei naquele time vice-campeão.
Não joguei um único jogo, na conquista daquela
medalha. Mas estava inscrito. Era da equipe. Era aceito pelos craques. Os
professores abonavam minha convocação, o que significava que eu tinha aprendido
alguma coisa (horas e horas na biblioteca).
Não é mentira não. Com um metro e cinquenta,
além das conquistas diárias me equilibrando nos corredores dos ensandecidos
ônibus de Belém, dividi o pódio de prata com gigantes.
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