quarta-feira, 20 de julho de 2016

crônica da semana: procura-se um amigo

Procura-se um amigo
Coisa boa é ter amigos, né? E se tiver casa em Salinas, num mês 40 graus como o nosso julho de férias, melhor ainda.
Depois de amanhã, é o dia do Amigo (não sei bem em qual instância: tem o dia nacional, o mundial, o da amizade, o do amigo que está longe; daquele que não aparece ou, por outra, quando aparece é rapidinho; daquele que liga todo dia; daquel’outro que silencia, mas, ao contrário da maioria dos parentes, sabe bem’zinho a data do nosso aniversário; daquele que mora, enfim, ‘no lado esquerdo do peito’...). Para mim é segunda-feira. É o dia que tá marcado na minha agenda como o verdadeiro, ainda mais porque é em julho...Talvez por causa daquele lance de casa em Salinas.
Mas o título da crônica, não é porque estou procurando um amigo com casa à beira-mar, não. Até porque, barulho por barulho, fico com os super-hiper-mega-ultra trovejares da praia do Caripi mesmo.
É que para ilustrar o dia do Amigo deste ano, andei lendo a famosésima crônica “Procura-se um amigo”. Pela razão pura deste texto ter dominado as agendas e os diários dos adolescentes da minha geração. E também, porque nela, o trato com o tema, é sem dúvida, cativante. Desperta a empatia, assim, de prima. Estimula o desprendimento e veste a alma de uma cândida complacência. Percebe-se, no texto, que tão importantes quanto os valores exigidos para admitirmos uma pessoa como amiga, são as concessões que precisamos fazer, para tê-las por perto. As palavras não buscam, portanto, um amigo perfeito. Procuram um amigo ideal (o que não quer dizer, necessariamente, perfeito. Às vezes as incorreções é que atraem).
Amigo ideal, me parece, então, que é o fim de toda a busca. E por ser uma abstração, um sonho, um fogo íntimo que se alimenta de impressões sobre o outro (muitas vezes incompreendidas e, de formas recorrentes, baseadas no bate-fica, no ‘amor à primeira vista’), o que é pretendido varia de pessoa para pessoa (por isso a “Procura-se...” original contempla tantas virtudes e tantos perdoáveis pecados: uma das combinações nos serve). E aí, vai da gente, estabelecer o perfil dos nossos amigos.
A gente sabe que esse negócio de ideal é miragem, é viagem. Mas um esforçozinho a gente faz pra chegar perto (o que, novesfora a lógica espacial, quer dizer, também, ficar longe ou a numa distância necessária para evitar frustrações, desgastar ou supervalorizar a convivência).
Sou um amigo muito distante daquele idealizado, sou meio desatento, capto com dificuldades aqueles compromissos de realce (esqueço aniversários, por exemplo), mas acredito naquela coisa de contatos imediatos. Se der a liga, vou até o fim. Tento ser um amigo fiel. Trato a coisa com uma obediência cega. Sou irremediavelmente passional. Não pondero. Meu amigo pode até estar sem razão, mas tem ocorrido às pampas, situações em que me enfio nas paradas mais inglórias como litisconsorte. Cuido para ser solidário e reconheço aquela amizade do tipo corrente: se é amigo do meu amigo, é meu amigo. Da mesma forma, queimo com desafetos ou contendores transversais: mexeu com meu amigo, mexeu comigo.
Das combinações expostas na crônica original, componho um quadro de muitos defeitos, mas gostaria de dizer para meus queridinhos que persigo a virtude da sinceridade, para poder declarar a vós, o meu afeto, a todo instante, no silêncio ou indiscretamente aqui, nestas linhas desprovidas de pudores ou recatos. Sintam-se, queridos, acarinhados neste dia do Amigo. Pois que a mim me apraz muito a idéia de termos sempre, ‘uns aos outros’.
Em tempo: nenhum dos meus amigos atuais tem casa em Salinas. Só o amor nos vale.



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