Procura-se um amigo
Coisa boa é ter amigos, né? E se tiver
casa em Salinas, num mês 40 graus como o nosso julho de férias, melhor ainda.
Depois de amanhã, é o dia do Amigo (não
sei bem em qual instância: tem o dia nacional, o mundial, o da amizade, o do
amigo que está longe; daquele que não aparece ou, por outra, quando aparece é
rapidinho; daquele que liga todo dia; daquel’outro que silencia, mas, ao contrário
da maioria dos parentes, sabe bem’zinho a data do nosso aniversário; daquele
que mora, enfim, ‘no lado esquerdo do peito’...). Para mim é segunda-feira. É o
dia que tá marcado na minha agenda como o verdadeiro, ainda mais porque é em
julho...Talvez por causa daquele lance de casa em Salinas.
Mas o título da crônica, não é porque
estou procurando um amigo com casa à beira-mar, não. Até porque, barulho por
barulho, fico com os super-hiper-mega-ultra trovejares da praia do Caripi
mesmo.
É que para ilustrar o dia do Amigo deste
ano, andei lendo a famosésima crônica “Procura-se um amigo”. Pela razão pura
deste texto ter dominado as agendas e os diários dos adolescentes da minha geração.
E também, porque nela, o trato com o tema, é sem dúvida, cativante. Desperta a
empatia, assim, de prima. Estimula o desprendimento e veste a alma de uma cândida
complacência. Percebe-se, no texto, que tão importantes quanto os valores
exigidos para admitirmos uma pessoa como amiga, são as concessões que
precisamos fazer, para tê-las por perto. As palavras não buscam, portanto, um
amigo perfeito. Procuram um amigo ideal (o que não quer dizer, necessariamente,
perfeito. Às vezes as incorreções é que atraem).
Amigo ideal, me parece, então, que é o fim
de toda a busca. E por ser uma abstração, um sonho, um fogo íntimo que se
alimenta de impressões sobre o outro (muitas vezes incompreendidas e, de formas
recorrentes, baseadas no bate-fica, no ‘amor à primeira vista’), o que é
pretendido varia de pessoa para pessoa (por isso a “Procura-se...” original
contempla tantas virtudes e tantos perdoáveis pecados: uma das combinações nos
serve). E aí, vai da gente, estabelecer o perfil dos nossos amigos.
A gente sabe que esse negócio de ideal é
miragem, é viagem. Mas um esforçozinho a gente faz pra chegar perto (o que,
novesfora a lógica espacial, quer dizer, também, ficar longe ou a numa distância
necessária para evitar frustrações, desgastar ou supervalorizar a convivência).
Sou um amigo muito distante daquele
idealizado, sou meio desatento, capto com dificuldades aqueles compromissos de
realce (esqueço aniversários, por exemplo), mas acredito naquela coisa de
contatos imediatos. Se der a liga, vou até o fim. Tento ser um amigo fiel.
Trato a coisa com uma obediência cega. Sou irremediavelmente passional. Não
pondero. Meu amigo pode até estar sem razão, mas tem ocorrido às pampas, situações
em que me enfio nas paradas mais inglórias como litisconsorte. Cuido para ser
solidário e reconheço aquela amizade do tipo corrente: se é amigo do meu amigo,
é meu amigo. Da mesma forma, queimo com desafetos ou contendores transversais:
mexeu com meu amigo, mexeu comigo.
Das combinações expostas na crônica
original, componho um quadro de muitos defeitos, mas gostaria de dizer para
meus queridinhos que persigo a virtude da sinceridade, para poder declarar a vós,
o meu afeto, a todo instante, no silêncio ou indiscretamente aqui, nestas
linhas desprovidas de pudores ou recatos. Sintam-se, queridos, acarinhados
neste dia do Amigo. Pois que a mim me apraz muito a idéia de termos sempre,
‘uns aos outros’.
Em tempo: nenhum dos meus amigos atuais
tem casa em Salinas. Só o amor nos vale.
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