Uma história da Feira Pan
Tudo
ajeitadinho estava. A minha melhor roupa, flores na mesinha, dois exemplares do
livro bem aparados por um suporte metálico, mulher e filhinhos fazendo a pré.
Mas, olha só quem me chega com toda a pompa e circunstância, também, para uma
sessão de autógrafos no estande ao pegado: Maurício de Sousa. Aí, não teve
combate. Foi dez a zero pra ele...
A
Filha do Holandês foi uma experiência até bem sucedida que fiz, desenvolvendo
uma narrativa de conto. Escrevi para participar de um concurso que era
promovido pela UFPA. Mina de concorrentes. Pra mais de trezentos, em toda a
Amazônia Legal. Fiquei em segundo lugar. Eba! Ganhei até um dindim. Foi, porém,
uma produção circunstante, rara nesse meu jeito de escrever. Simpatizo mesmo é com
a crônica.
Aí
deixa que foi chovendo e voltou pingando; foi tina e voltou tinindo, que
durante um bom tempo, fiquei sem publicar. Falta de entusiasmo, de grana, de
parceiros. O que não é bom para um escritor. A boa prática da escrita recomenda
a produção inteiriçada. Eu mesmo me cobrava. Até porque, fui um dos pioneiros
na Feira do Livro. Se a conta não me trai, já na terceira edição da Feira,
estávamos lá eu e meu compadre José Miguel Alves lançando nosso “Operário em
verso e prosa”. Depois, segui sozinho com “O dia mais feliz...”. Enquanto os
exemplares destas edições duraram, minha participação na Feira foi certa. Até
que, eita, acabou-se tudo. Fiquei sem título. Passei um tempão só orbitando o
estande. Assuntando, prestigiando os colegas, coletando um autógrafo aqui,
outro ali. Sem livro pra chamar de meu.
Até
que pintou a chance de rodar meu conto “A Filha do Holandês”. Mais que depressa
me habilitei para um lançamento no estande dos escritores paraenses. Consegui
um patrocínio de responsa da Albrás, uma produção gráfica de primeira e
ilustrações caprichosas de Yran Leal, um parça meu de Barcarena que tem muito
ainda para nos dar.
Como
diria minha mãe, todo etiquetado estava. Dizque todo seu pintoso da Silva
pronto para exibir e autografar minha obra premiada.
E
foi assim, que numa tarde dessas de derreter os miolos, que, passados alguns
jejuns, voltava a Feira com um livro novo.
Só
que depois dessa reestreia na Feira, com “A Filha...”, tornei ao vácuo. Deitei-me
à margem, evaporei de novo em vapores inertes.
Acontece
que eu tinha uma boa quantidade de livros, pra mais de mil. Precisava
despachar. O livro era baratinho. Patrocinado, né.
Mas...
Tudo
ajeitadinho estava... flores na mesinha, dois exemplares do livro bem aparados
por um suporte metálico...
A
lembrança abrasadora que tenho é a do criador da Turma da Mônica passando em
direção ao estande vizinho e atrás dele algo como a multidão que acompanha o
Círio. Fora as crianças! Uns incautos que iniciavam uma prosa comigo sobre “A
Filha...”, quando viram o Maurício, debandaram. Mulher e filhinhos, idem. E sem
o menor argumento, e quedando-me à humildade, racionalizei a conjuntura
juntamente com “A Filha do Holandês”, fechamos a banca e fomos ver o Maurício
também. No frigir dos ovos, nem eu fiquei para o meu lançamento.
Daqui
a pouco vou lançar meu novo livro, “Corrente”, na Feira Pan e pode vir o
Maurício de Sousa de novo, que dessa vez, tenho um plano infalível pr’ele.
É amigo,
ResponderExcluirO mundo dá voltas e, sábado te vi cercado de admiradores e admiradoras comprando teu livro. Parabéns pelo novo lançamento, já comecei a leitura e, o riso, esse sempre vem com teu jeito simples, direto e cômico de escrever as adversidades de forma suave e livre.
Quanta identificação, Sodré!
ResponderExcluirPara quem acompanha a Feira do Livro de BELÉM há tantos carnavais e perequequés e se atreve a publicar e se lançar ao interesse do leitor, logo compartilha teu relato com satisfação. é o meu caso.
Ao ler esta crônica, revejo os eventos na minha frente, num telão de Led escorado na parede da memória.
Cara, você conduz muito bem a imaginação do leitor. Tô admirado (feito cearense na feira, experimentado farinha) com essa tua capacidade de conduzir o leitor pelo fio da imagem. É para poucos. Me alegro de me identificar com muitas das tuas histórias.
Um firme aperto de mão e um abraço acalorado do Pessoato