terça-feira, 14 de julho de 2015

crônica da semana - norte

De norte a norte
No dia 21 de junho próximo passado foi a noite mais longa do ano em Ushuaia, na Argentina. Lá, escureceu às 17h e o sol só apareceu de novo às 10 da manhã. Uma noite especial com duração de 17 horas, naquele ponto distante da Terra do Fogo, bem na pontinha da América do Sul.
Eu não sabia deste evento natural que se realiza na Argentina. Mas sabia de outros do mesmo jeitinho que acontecem nas altas latitudes da Europa. É famoso um vídeo que circula na internet mostrando o sol da meia-noite, na Noruega ou as ‘noites’ de sol na Alemanha da copa de 2002.
Não que eu esteja pra graça com o hermanos depois do baile que eles deram na Copa América, mas me questiono por que não se dá a mesma ênfase que se dedica à banda do norte, aos fatos que nos envolvem cá no hemisfério sul. Com certeza temos um sol da meia-noite na Antártida também, mas ninguém dá ibope. Tudo é pro norte. Tal coisa assim, assim é norte. E parari e parará é norte. E por que torna e por que deixa é norte. A agulha da bússola aponta pra’li. O papai Noel despenca daquele polo com suas renas. Quando se viu acossado pelas inquietações humanas, o monstro Frankenstein exilou-se por lá. O Titanic. A travessia dos nossos antepassados. O vento no norte. As leituras no astrolábio, a guia da Polaríssima.
Por aí a gente tira que há um certo privilégio em estabelecer regras das mais variadas matizes tomando-se como referência as terras do setentrião. Até na cartografia a gente se dá com isso. Os mapas são ordenados de forma que a gente entenda o mundo com uma parte de cima e outra de baixo. E quem está em cima? O círculo polar Ártico, os esquimós, o urso polar, os países ricos, a Europa. Aqui embaixo, a Antártida, os pinguins, os hermanos, os bárbaros do sul. Por que não é de outro jeito? O sul em cima e o norte embaixo; ou o sul à esquerda e o norte à direita. A maneira de ver o mundo tal qual é feita hoje, é tendenciosa. Revela a idéia dos dominadores, dos conquistadores. Denota poder. Verticaliza algo que nem tem direção porque os valores humanos têm propriedades escalares, ou pelo menos deveriam ter. Deveriam ser os mesmos em todo canto e lugar.
Todos nós ouvimos falar, algum dia que no polo (norte) a noite dura seis meses e o dia, mais seis. Não entendemos de prima, como isso pode acontecer. Mas é verdade. Em determinada latitude a Terra fica de tal jeito, com relação ao sol, que permite a semestralidade de cenários opostos. E fazendo justiça à mídia, o vídeo da internet sobre o sol da meia-noite é deveras esclarecedor. Didático. A gente que não cria, acaba crendo e até dominando a dinâmica de deslocamento de Terra e Sol.
O que nós não ouvimos falar é que no polo sul, acontece a mesma coisa.

Agora, por essa época, Ushuaia, na Argentina, teve uma noite longuíssima. Lá no cocuruto do polo sul inicia-se uma noite de seis meses. As árvores perderam as folhas, na Terra do Fogo. Mas ninguém sabe. Fosse na Alemanha ou Noruega, estava bombando de vídeos na internet. Porque tudo é pro norte, porque a história é contada na versão boreal. E parari, parará.

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