sábado, 4 de abril de 2015

Crônica da semana- pra donde

Pra donde, já, mano?
Uma contagem que me faz a maior latomia no cocuruto é esta dos dias da semana. Por que não se emendam os numerados: “...quinta, sexta, sétima e  oitava-feira”?
Caberia direitinho, né. Mas não. Colocaram um sábado e um domingo encerrando o estirão ordenado que me vinha até bem.
São as descontinuidades oportunas, as conveniências históricas, as vaidades e as presepadas do poder que desequilibram a contagem, e olha que Deus, no Gênesis, do alto da sua infinita bondade, deu a letra da sequência: “e no sétimo dia, descansou”. Eu, heim, pecado mortal esta desobediência.
Mas vá lá que seja. Tá feito. Caímos fora do paraíso e agora nos vemos pra dar jeitos nos dias.
Aonde então arrumar forças? As armadilhas são implacáveis. Tenho caído em algumas. Dia desses dei com um texto meu pautando a prova de um concurso aqui da cidade. Não me deram nem as horas, nem um “bom dia, vamos usar teu texto na nossa prova e coisa e lousa”.  Relevei. Fui ver as questões formuladas e procurar entender o que eu quis dizer naquela prosa. Percebi que esses elaboradores de provas são mesmo uns sacristas. Traçam as perguntas e, no lugar de explorar as construções mais elegantes que varam do nosso cocuruto, fuçam as armadilhas, os escorregões. Neste dito concurso, me pegaram na curva porque não separei com vírgula, uma locução adverbial em determinado momento do texto. Ora, faça-me  o favor! Estes caras acham que não sei disso. Pô, estudei com professora Cleide Nascimento no primeiro grau, com o Alfredinho, na Escola Técnica. Tenho aqui ao meu pegado, a novíssima gramática do Celso Cunha. Nos meios de discussão das coisas da linguística que me enxiro, sou taxado de gramatiqueiro enjoado, conservador, afetado. E até me considero mesmo bem chegado ao preciosismo, prezo essa história de escrever direitinho, mesmo que por linhas tortas.
São as descontinuidades oportunas... as presepadas do poder que desequilibram a contagem e olha que Deus deu a letra: “não errarás”!
Então tá, pequei, Senhor. Os concurseiros que fizeram a prova, tascaram um xis na resposta certa e eu passei como um literato iletrado nesta questão.
Cabe a explicação: quem escreve num veículo de linguagem rápida, sabe o entrave que as marcações, algumas vezes, representam. E aqui está um exemplo. Usei o aposto “algumas vezes”, que pela regra, vem entre vírgulas. Mas perceberam, né. O ritmo sofre um baque com esta marcação. Ocorre uma desaceleração na pegada. Pequei. Mas acho que pecava mais quando era um virguleiro ortodoxo. Me desapeguei do paraíso das vírgulas, ganhei o rumo feliz do pecado.
No frigir dos ovos, o  elaborador da prova me pegou na ratada, numa imprudência sintática que, por fim, nem dói.

Se quisesse me pegar de jeito, me detonar gramaticalmente, de vera, bastaria pegar um texto em que lanço mão dos advérbios “onde” ou “aonde”. É batata. Sempre erro. Mesmo com o Celso Cunha do lado, emprego sempre o advérbio errado para esta ou para outra situação. Pra esse erro, não cabe a desculpa de ritmo ou explicação de linguagem. Não sei pra donde vou mesmo. Pode tascar o xis.

Um comentário:

  1. Eres un craque mi cuñado!! Al final, para que nos sevirán las comas, sino para separar caminos?!? Hahaha..

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