quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

crônica remix - plutão


De Plutão a Plutinho
Tanto que fizeram que conseguiram destituir Plutão do título de último planeta do sistema solar. Eu sabia. Sabia que o título não mais ia durar. A pressão tava demais. Tadinho.
Mas também, o zinho pediu para ser rebaixado.
Descoberto em 1930, o (ex) planeta das profundezas guarda em si características bem irreverentes. É um tiquinho de matéria, mas descabidamente galhofeiro.
Primeira, não é visível a olho nu. Anda por aí de flozô  sem que a gente, concretamente o perceba. Este fato contou muito para a sua queda. Não lhe foi possível o apoio popular. Ficou difícil mobilizar simpatias por uma coisa que a gente não vê. Estamos acostumados ao concreto, ao palpável. Como certificar um ente que não está ali para impregnar de luz, mesmo que discretamente, a nossa pupila? Plutão é produto dos segredos matemáticos, das peripécias do cálculo Newtoniano, das intimidades gravitacionais incompreensíveis para nosotros, pobres mortais.
Outra, o ex (ai que peninha!) planeta, tem uma órbita serelepe, anárquica. Enquanto os outros volteiam em torno do sol num traçado disciplinado, obediente (como se fossem petecas contornando os quatro cantos da superfície de uma mesa), o bonitinho viaja meio de ‘revestrés’. Se desenvolve num caminho inclinado com relação ao restante dos planetas (como se fosse uma peteca em trajetória cortando o tampo da mesa). A primeira lei de Kepler teria dado uma dor de cabeça a mais ao cientista se ele, à época, tivesse tido o prazer de conhecer Plutão.  E esta órbita subversiva, com certeza, inquietou bastante os bambambans da Astronomia, tão simpáticos às confortáveis similitudes do cosmos.
Depois, Plutão é um corpo celeste que está mais pra lá do que pra cá. É um ator da periferia solar. Gelado que só ele, perturba os confins do sistema e “faz fronteira com o infinito”. E, nos dias de hoje, quem, além da Regina Casé, dá trela para estas peças da periferia? Os nossos sisudos homens do comando, é que não.
E, por fim, a determinante característica do pobrezinho, aquela que balou o little planet do rol dos colunáveis. Era um planeta gitito. Taí, o mais contundente gracejo de Plutão. Tem o nome no aumentativo, desafiando protagonistas mais taludos como Júpiter ou Saturno. Mas é gito gito.
Creio, porém, que o principal motivo da saída de Plutão foi uma interpretação empobrecida, caduca sobre o que é democracia. Havia mais uns quantos astros na mesma situação de Plutão, que poderiam, também, ascender para o status de Planeta. Decidiram. Se não dá para os outros entrarem, não dá pra ninguém, e pluft, Plutão virou Plutinho. Reproduziram a máxima cruel aqui da Terra. Mais fácil sacrificar um, do que contemplar todos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário