sábado, 11 de dezembro de 2010

crônica da semana

O Natal da minha Aldeia 

As festas estão aí, na porta. Como o ano passou rápido! A gente tá bem assim, né, distraído, e quando se espanta, já é Natal. Aí, é um corre-corre, um conversar baixinho com a grana do décimo, um isso de perdões elencados, um aquilo de boas ações agendadas. Tudo rolando ao mesmo tempo, com a pressa obsequiosa e austera que o momento exige. Os espíritos vão se alinhando à luz. A candura se aproxima como quem não quer nada. As lampadinhas enroladas nas mangueiras animam a cidade. Quero receber este Natal leve que nem o levinho algodão. Livre de pensamentos maus. Tô preparando aí umas crônicas só o creme, falando apenas coisas do bem. Valorizando palavras legais como amizade, chocolate, jogos de luzes azuis, paz, amor, filhos agarradinho, música calminha, brigadeiro, pôr do sol, chuvinha fina que nem neve, sorvete com bastante cobertura, sapatinho na janela, show do Roberto Carlos, manhã, estrela, céu, lua, Jesus menino.Mas antes que o espírito natalino baixe sobre mim alienando minhas queixas, vou fazer um desabafo. Gente da minha alma, vamos cuidar do nosso lixo. Nenhuma felicidade se sustenta na sujeira. Olha essa:Sábado passado teve uma festa aqui na Aldeia Cabana. Fico na bronca porque este espaço, à época que foi criado, sob inúmeros protestos, diga-se, tinha fins nobres, afinados com o interesse público. Mas deu uma desviada. O que se vê por aqui é o nosso direito de ir e vir ser cerceado porque vai ter a festa do seu fulano de tal que fecha a rua e cobra ingresso para o divertimento (dos que pagam, né, porque a gente que mora ao pegado, fica se remancheando pra cá e pra lá na cama, sem dormir com a barulheira até a alta madrugada).  E assim, não vejo um tico de inclusão nessas festas (até porque cobram ingresso a um espaço público, são mais do que exclusivos). E olha que já tivemos momentos memoráveis na Aldeia, como a Bienal (tão cruelmente esquecida) de música, que no mínimo pregava a diversidade melódica, ao invés dessas mesmices que somos obrigados a consumir no frágil refúgio do lar; a orquestra sinfônica. Gente, a Orquestra Sinfônica do Teatro da Paz, já tocou na Aldeia. Grupos afros, Chico César, Gilberto Gil. Muitos foram os eventos cidadãos (porque foram de grátis e não fecharam a rua) que abrilhantaram o espaço da Aldeia Cabana de Cultura Amazônica David Miguel. Mas agora... A gente não pode passar, não pode dormir, não pode pagar, éraste, tá ralado. E o que é pior...O lixo no dia seguinte.Vá lá que seja. Pode-se argumentar que para ser sustentável, o espaço tem que gerar receita. Tudo bem. Mas se eu fosse gestor da Aldeia, colocaria bem direitinho uma condição essencial: tem que deixar o lugar como encontrou.No domingo, quando saí de casa pra comprar pão, pê-da-vida porque não dormi que prestasse, passei pela Pedro Miranda. Meu Deus! Uma zona. Lixo pra todo lado. Um mar de porcarias deixadas pelos popsugismundos. O que me chamou a atenção é que toda a parafernália da aparelhagem foi retirada, todo o material de bar foi removido (que eles não são bestas nem nada), mas o lixo ficou. O lixo era todo nosso. Penso então: não adianta o poder público alardear avisando que quem entope canal é o lixo. Isso é pura hipocrisia. Naquele dia, aquele entulho foi todo para o canal da Pirajá ou para as galerias subterrâneas, com o aval do poder público. Lá pelas dez horas, o vento deu, inocentemente, a sua contribuição e espalhou os resíduos. À tarde, a chuva das três completou a derrota. E os irresponsáveis que arrumaram isso tudo, ó, tremeterrando em outra freguesia e se lixando pro nosso Natal.

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