sexta-feira, 11 de junho de 2021

crônica da semana - água na geladeira

 Água na geladeira é bom

A imagem da semana, embora seja constante nos últimos anos, causou espanto. Várias cidades do Amazonas alagadas. As casas só com o telhado fora d’água. Diante do cenário eu sempre faço a mesma pergunta: como esse povo bebe água, meu pai? Sim, porque mesmo que no meio de tanta água, aquela não é água de se beber assim, a hora que der vontade ou bata a sede.

Agora diz daí, com esse calorão que já se assanha nas tardes em Belém, de a gente chegar em casa, dar aquele banho de álcool no corpo, descontaminar os pertences, sentar um pedacinho no alpendre pra apreciar os últimos raios de sol, e enquanto repara o dia ir-se indo, com satisfação, beber um copo de água bem geladinha, heim... Que tal?

Ter água na geladeira é bom. De vez em quando ir lá, vencer a sede e ainda ter o prazer da água friinha tem um valor sem tamanho em nossa qualidade de vida.

A semana passou nos lembrando do Meio Ambiente. Nestes tempos apavorantes em que vemos o ministro da pasta posar para fotos tendo atrás dele uma pilha de árvores mortas, uma reflexão sobre a água que consumimos diariamente deve estar na pauta. Toda vez que abrimos a geladeira e pegamos uma garrafa d’água friinha, busquemos na mente o valor desta ação tão comum. E tão dependente dos cuidados que dedicamos ao Meio Ambiente.

A recomendação dos especialistas é que a gente beba pelo menos dois litros de água por dia. Para que a pessoa se mantenha viva e saudável, basta que a água seja potável. Livre de contaminantes biológicos e apresente um padrão físico-químico. Quando, além destes requisitos a água é enriquecida de elementos outros, pode ser considerada como mineral. Esta, normalmente traz na composição, elementos químicos retirados de rochas comuns em regiões mais profundas e quentes da crosta, como o Magnésio e o Cálcio. Podemos então beber água potável e água  magnesiana ou cálcica, quando da vontade ou na ira da sede; geladinha ou ao natural mesmo. Só não podemos beber é qualquer água.

O que torna e o que pesa é que a espécie que mais encontramos por aí e por cá, é a dita qualquer água.

Belém tem água em tudo quanto é canto. É cidade varada por igarapés. Mais além, temos grandes rios e a baía do Guajará, que é um caudal portentoso. Só que é ruma de água imprópria para o consumo imediato. Águas de superfície, poços rasos, não raro, são desprovidas de qualidade. Do rio, até podemos retirar água para consumo, mas é arte que exige tratamento, adição de químicos, processos físicos de purificação. É um serviço necessário, no entanto, caro.

As águas subterrâneas protegidas são mais indicadas. Poços profundos, que têm selagem e filtragem natural são aqüíferos de alta qualidade. Ocorre que poços não geram boas fotos, não maquilam imensas áreas de tratamento que podem ser registradas por drone, não requerem produtos extras de purificação. No frigir dos ovos, não rendem licitações robustas ou ibope político.

Quando a gente vai na geladeira e apanha uma água friinha pra beber, podemos nos considerar privilegiados, primeiro porque temos um quadro de disponibilidade deste bem e segundo, porque podemos pagar por ele.

Certa vez, passei uma temporada numas dessas ilhas que rodeiam Belém. Ilha é uma porção de terra cercada de água por todos os lados. Quando bateu a sede, fui na geladeira. A água apresentava alterações. Água do caudal. Do baixio de açaizeiros. Do raso dos poços. Friinha, mas amarelinha e com um gosto alagado e triste.

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