sábado, 13 de janeiro de 2018

crônica da semana - iguanas marinhas

Belém e as iguanas marinhas
Para tudo! Encaixotem todos os livros de autoajuda que vocês leram ou que estão por ler. Abram a mente e se preparem para ter um exemplo de luta incondicional pela vida. Assistam à  nova temporada da série da BBC, “Planeta Terra” e vejam o que a iguana marinha tem a nos ensinar. É de arrepiar as cristas.
Mas é também de dar dó. As iguanas adultas põem seus ovos na praia e vão dar um rolé nas águas azulzinhas do Pacífico. Os filhotes nascem sozinhos. Tão logo emerge dos escondidos da areia, a agonia do filhote começa. Algumas dezenas de cobras estão só na bicora. Só esperando o almoço dar sinal de vida. As cenas filmadas pela BBC são fortes. Cheias de medo e tensão. Nem bem o lagartinho dá os primeiros desengonçados passos, e as serpentes avançam. Aí a coisa pega. Filhote de iguana não tem esse negócio de proteção de outros indivíduos adultos. Não se dá ao luxo de fazer reconhecimento do ambiente, criar intimidade com o habitat. Nem recebe um sustinho para estimular a respiração, nada disso. O filhotinho já tem que nascer com a musculatura apta e a aeróbica no jeito, porque, da feita que sai da toca, é patas pra-que-te-quero. É no corre, no pinote. E as cobras atrás, ávidas, doidinhas pra dar uma abraço apertadinho no bebê.
É uma peça que a natureza prega, que às vezes a gente acha até ser injusta. Muitas iguanas, apesar da desenvoltura e da ligeireza, ficam pelo caminho, esmigalhadas pelos rolos de serpentes. Mas àquelas que varam o cerco, a natureza dá uma forra: não têm que lutar tanto pela comida. A iguana adulta importa-se pouco em predar para comer outros animais. O que elas comem de vera mesmo são as acessíveis algas marinhas.
Aliás, esse detalhe da predação é um contribuinte que concorre contra os filhotes das iguanas. Não disse lá em cima? É um monte contra um. Não que não existam outros casos, mas, que é um azar danado do lagartinho isso é. Na maioria das vezes, a situação se inverte. Em outros tantos documentários, estamos acostumados a ver um único predador no ataque a bandos robustos de caça. Acontece com o leão cercando uma manada de Gnus, ou uma onça à espreita de um emaranhado de jacarés. São predadores que agem sozinhos ou, quando muito, com mais dois ou três acompanhantes. Por isso as iguanas sobreviventes são como heroínas da natureza. Logo ao nascer, mesmo antes que digam “olá, mundo”, uma mina de serpentes saem no seu encalço, com intenções nada amigáveis. Covardia.
Éraste, pode até ser um chute nos tentilhões de Darwin, a minha opinião, mas tenho pra mim que não é nada bacana ser iguana em Galápagos.
Ainda tem outra. A natureza não bate muito com a iguanas. Falei que não precisam morder jugular de ninguém pra comer, né. Em contrapartida, têm que mergulhar uns quarenta metros e se acostumar a prender a respiração por aproximadamente 30 minutos para poder encher o bucho de algas. Neste caso, a natureza nem dá o peixe, e nem ensina a pescar.
E o que tem a ver a lida dos filhotes de iguanas marinhas, com a nossa Belém evoluída?

Tirando os tentilhões, muita, muita coisa de corre e de pinote. 

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