Meu
reininho da Pandegolândia
Éraste!
O pobre é ralado. Um ser adversativo. Sempre tem o feixe ‘mas, porém, contudo,
entretanto, todavia’ compacto se emboletando na vida dele.
O
camarada tem uma semana por acolá de estressante, no trabalho e nas artes? Tem.
Tem um alívio quando tudo termina bem? Tem. Pra completar tem um feriadão de
carnaval que não acaba mais? Ora, se tem. Mas não esqueçamos: o pobre é ralado.
Na batida da campa da sexta-feira ele gripa.
E
uma gripe estranha. No meu caso, que sou amamãezado, uma exposição repentina à
umidade noturna, a mais doce brisa do terral, uma lufada de respingos da chuva
da tarde, já me são o princípio do fim do mundo de coriza e febres por dentro
altíssimas, avalie uma gripe estranha com dor de garganta e quebradeira no
corpo. Como dizia minha mãe: “chama o carro, chama o carro, que o homi tá mal”.
O
que torna é que minha patota ganhou o mundo no sábado gordo e eu fiquei sozinho
em casa, dizque, me recuperando.
E
até que me recuperei rápido. Na verdade eu estava era cansado pacas. Uma
preguiça imensa. Vontade de dormir para sempre. Dei o desdobro para não viajar.
A idade, Esse menino, a idade me cobrando quietudes.
Não
estranho a solidão, mesmo que seja batendo de frente com a euforia do carnaval.
Houve uma época, nos ermos das minerações por onde passei, que meu carnaval era
acompanhando o Chacrinha (e em programas gravados). No frigir dos ovos, tô é
bem na foto em Belém. Na cidade das mangueiras, na Pedreira, do samba e do amor,
com intenções e possibilidades, ali, na biqueira de se concretizarem. Se quiser
vou batucar por aí, arriscar uns passinhos atrás do Mangal dos Urubus,
concentrar, Irrecuperável, no Boiúna do
Mário. Ver o Piratas passar ali na esquina. Vai de mim. Mas não vou.
A
mim, me apraz curtir essa liberdade doméstica alcançada pela sedutora solidão.
Ninguém pra concorrer comigo na Netflix. As toalhas dispostas à mão, na
tentação de eu pegar qualquer uma sem que o dono me ralhe: “ei, essa toalha é
minha!”. E eu peguei qualquer uma. Meu sonho! E peguei mesmo qualquer uma rá rá
rá. Isso não tem preço. Carnes, verduras e legumes na geladeira e opto, sem
remorsos, pelo macarrãozinho com ovo. Maravilha! Missão sagrada: a comida da
gata, esta não pode falhar. Mas no resto, me entrego às leis que não regulam
nadica de nada no meu reininho solitário da pandegolândia. A pia, por acolá de
louça, e ainda falta água. Pai d’égua, um álibi.
Cerveja
a dar na canela só pra mim. Mas de álcool, nadinha. A missão é recuperar. Um
suco de acerola pra dar aquele reforço na vitamina C e anoitece.
Nem
tinha dado ibope pro celular. Vou ao zap e vejo lá, fotos da família se
divertindo. Lá pelas tantas, uma mensagem chega, perguntando se estou melhor.
Gravo um áudio: Vou navegando.
No
dia seguinte, todo mundo de volta. Reclamações sobre o lixo que não pus fora,
sobre o computador que não desliguei, e porque não troquei de roupa. Tava sentindo
falta disso. Tusso violentamente, espirro espirros vulcânicos. Caio prostrado.
Peço que alguém me faça um chazinho. E sigo, navegando, curtindo uma febrinha
por dentro.
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