sábado, 4 de março de 2017

crônica da semana- pandegolândia

Meu reininho da Pandegolândia
Éraste! O pobre é ralado. Um ser adversativo. Sempre tem o feixe ‘mas, porém, contudo, entretanto, todavia’ compacto se emboletando na vida dele.
O camarada tem uma semana por acolá de estressante, no trabalho e nas artes? Tem. Tem um alívio quando tudo termina bem? Tem. Pra completar tem um feriadão de carnaval que não acaba mais? Ora, se tem. Mas não esqueçamos: o pobre é ralado. Na batida da campa da sexta-feira ele gripa.
E uma gripe estranha. No meu caso, que sou amamãezado, uma exposição repentina à umidade noturna, a mais doce brisa do terral, uma lufada de respingos da chuva da tarde, já me são o princípio do fim do mundo de coriza e febres por dentro altíssimas, avalie uma gripe estranha com dor de garganta e quebradeira no corpo. Como dizia minha mãe: “chama o carro, chama o carro, que o homi tá mal”.
O que torna é que minha patota ganhou o mundo no sábado gordo e eu fiquei sozinho em casa, dizque, me recuperando.
E até que me recuperei rápido. Na verdade eu estava era cansado pacas. Uma preguiça imensa. Vontade de dormir para sempre. Dei o desdobro para não viajar. A idade, Esse menino, a idade me cobrando quietudes.
Não estranho a solidão, mesmo que seja batendo de frente com a euforia do carnaval. Houve uma época, nos ermos das minerações por onde passei, que meu carnaval era acompanhando o Chacrinha (e em programas gravados). No frigir dos ovos, tô é bem na foto em Belém. Na cidade das mangueiras, na Pedreira, do samba e do amor, com intenções e possibilidades, ali, na biqueira de se concretizarem. Se quiser vou batucar por aí, arriscar uns passinhos atrás do Mangal dos Urubus, concentrar, Irrecuperável,  no Boiúna do Mário. Ver o Piratas passar ali na esquina. Vai de mim. Mas não vou.
A mim, me apraz curtir essa liberdade doméstica alcançada pela sedutora solidão. Ninguém pra concorrer comigo na Netflix. As toalhas dispostas à mão, na tentação de eu pegar qualquer uma sem que o dono me ralhe: “ei, essa toalha é minha!”. E eu peguei qualquer uma. Meu sonho! E peguei mesmo qualquer uma rá rá rá. Isso não tem preço. Carnes, verduras e legumes na geladeira e opto, sem remorsos, pelo macarrãozinho com ovo. Maravilha! Missão sagrada: a comida da gata, esta não pode falhar. Mas no resto, me entrego às leis que não regulam nadica de nada no meu reininho solitário da pandegolândia. A pia, por acolá de louça, e ainda falta água. Pai d’égua, um álibi.
Cerveja a dar na canela só pra mim. Mas de álcool, nadinha. A missão é recuperar. Um suco de acerola pra dar aquele reforço na vitamina C e anoitece.
Nem tinha dado ibope pro celular. Vou ao zap e vejo lá, fotos da família se divertindo. Lá pelas tantas, uma mensagem chega, perguntando se estou melhor. Gravo um áudio: Vou navegando.

No dia seguinte, todo mundo de volta. Reclamações sobre o lixo que não pus fora, sobre o computador que não desliguei, e porque não troquei de roupa. Tava sentindo falta disso. Tusso violentamente, espirro espirros vulcânicos. Caio prostrado. Peço que alguém me faça um chazinho. E sigo, navegando, curtindo uma febrinha por dentro.

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