quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

crônica da semana - biri suco

O efeito biri-suco
O cimento duro e ainda mais uns trechos falhados que formavam buracos na calçada, e que me doíam e me marcavam as costas, nem faziam parte dos meus desagrados mais explícitos. O que me deixava sem dormir mesmo era a possibilidade real dos cachorros que por ali vadiavam, fazerem xixi em cima da gente.
Assim foi minhas férias num ano qualquer da década de 80, em São Caetano de Odivelas.
Aquele último suspiro das férias, já atropelando o mês de agosto coincidiu com o Círio de São Caetano. Não atinei para o sufocamento de gente clássico dos veraneios no salgado. Juntei minha tropa com a tropa de um amigo e ganhamos rumo. No total, éramos 10 pessoas. E tomávamos a responsabilidade sobre 6 crianças.
Na chegada, tudo na paz. Alegria, contentamento e uma certa leveza no espírito permitida pelo clima interiorano da cidade. Depois de um café rápido na feira, saímos atrás da bandinha que se dividia em dois cortejos pelas vielas da cidade. Chamou a atenção, uma bebida que, ao sol ainda frio da manhãnzinha, era servida aqui e ali para os músicos e para ávidos interessados que acompanhavam a bandinha. Era o biri-suco...
Debandamos da bandinha e cuidamos de achar a casa que nos abrigaria. Era a casa de uma prima distante no grau da minha namorada. Nos abancamos, arrumamos nossas bagagens em um quarto pequeno e nos largamos a uma prosa de reconhecimento com a parentada d’acolá.
Conversa vai, conversa vem, nisso que o papo estava alinhado e arrematávamos uma agenda na cidade, colocando a procissão do Círio na pauta, eis que chega o primo.
Sem uma perna, perdida numa inglória porfia com um tubarão, o primo chegava esbanjando gentilezas. Animado demais para aquela hora da manhã, estivera atrás da bandinha e entornara umas quantas lapadas de biri-suco. Contatos feitos, retomamos nosso programa com um banho de igarapé, umas cervejas à beira do rio Mojuim e a compra, na beira salgada do rio, de uma Corvina deste tamanhão, para o almoço.
Aí tá, né...
Depois da peixada, quando eu já estava todo de flozô dando uns embalos na rede e pescando um sono, numa morrinha danada, me chega a minha namorada com a notícia de que o dito primo, aquele tão simpático de manhãnzinha, tinha se alagado no briri-suco e voltava brabo que não te conto pra casa, disposto a fazer e acontecer. Dizque, vinha encapetado de peixeira em punho.
Tornei da morrinha num estalo. Chamei meu amigo, arrumamos as coisas, contamos as criança: 2,4,6...e arribamos antes que o brabo despontasse pra espetar um no qual pega.
Ficamos no olho da rua. E como naquele momento a cidade estava abarrotada de gente, não conseguimos mais nem casa, nem hotel, nem varandinha para nos acomodar.
Tudo perdeu a graça. À noite, depois de várias tentativas, conseguimos abrigar as crianças na casa de uma conhecida de uma conhecida do meu amigo. Nós, ficamos a vagar. Ainda nos animamos a um folguedo no arraial, mas o cansaço nos venceu. Nos juntamos a uns jovens que namoravam na calçada do mercado e por lá nos ajeitamos na esperança de dormir um pouco. Mas quando! Os cachorros, por lá, vadiavam.


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