terça-feira, 10 de setembro de 2013

crônica remix - encontros e

Encontros e Despedidas

Logo que saí da Escola Técnica, caí no trecho e passei dez anos cangando grilo nas distâncias dessa Amazônia de meu Deus.
No início foi um lida desafiadora. Ainda mais para mim que só havia saído da barra da saia da mamãe para ir bem ali, em Mosqueiro, nos encontros de jovem da Escola Salesiana, e olhe lá!
Mas gostava quando o tanto de desassossego que sentia socado pelos sertões se convertia em incontida alegria, a cada vez que eu tornava (de férias, de folga...) a Belém.
Nos primeiros anos, o retorno era sempre uma festa. Mamãe mobilizava os amigos, juntava a família, e organizava uma comitiva animada para me buscar no aeroporto.
E era legal, reconheço, chegar e ver uma turma entusiasmada, ali no piso superior do aeroporto, acenando para mim.
Eu, no desembarque, entrava no clima.
Na escada do avião, dava até aquela paradinha clássica, respirava fundo, centrava o olhar para o salão do aeroporto, procurava rostos conhecidos e acenava, agradecendo a acolhida.
Já na volta, menos, menos: os vôos eram, normalmente, de madrugada. Mas sempre havia uns fiéis companheiros, além da mamãe, que iam me deixar no aeroporto. E eu não tirava por menos. Reeditava a clássica paradinha na escada, antes de entrar no avião. Era o momento indispensável, para um último aceno comovido, saudoso, sofrido, de despedida.
Mas o tempo, heim!
O tempo foi passando e arrefecendo os ímpetos. Do meio pro fim, ninguém mais me dava ibope. As minhas ausências estavam menos espaçadas, e as minhas vindas a Belém ficaram mais freqüentes. O rito do regresso virou rotina e perdeu a graça:
Eu chegava no aeroporto, dava uma espiadela rápida pelo salão e, nada. Ninguém conhecido. Eu que não cuidasse de pegar um Perpétuo-Socorro, porque a comitiva, já era.
Mas não me entreguei. Mantive a pose. Arrumei um jeito de me sentir esperado. E isso vale para todos os lugares em que acabo me embrenhando. Mesmo aqueles em que eu não conheço ninguém.
Resolvi manter, em todas e quaisquer circunstâncias, a paradinha clássica na escada e o disparo de acenos, agora, no ‘qual pega’, afinal ninguém sabe mesmo, na hora, quem acena para quem. Por vezes utilizo de táticas oportunistas como tomar emprestado a ‘direção’ (que, como já adiantei, não representa, necessariamente, alguém) de um outro passageiro, e acenar vibrantemente, (com lágrimas nos olhos e tudo) para aquele lado.Todo prosa. Definitivo.
Esse foi um jeito anárquico que eu arrumei (e que utilizo até hoje) para não me sentir tão sozinho por aí. Uma defesa necessária, montada a peso de inverídicos encontros e imprecisas despedidas.


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