sábado, 21 de julho de 2012

crônica da semana madri


O pote de ouro
No filme “1492, A conquista do Paraíso”, há uma cena que resume um pouco a história dos medos e conquistas do homem: Colombo sentado â beira da praia, fitando o horizonte (“a Terra é redonda”).
Daqui a pouco, vou sair, descer uma avenida movimentada, procurar uma pedra confortável, sentar pensativo, procurar um ponto no mar e, daqui de Vigo, na Espanha, vou repetir a cena de Colombo.
É bem verdade, que vai demorar um pouco até o sol se pôr. No verão, a noite não vem antes das dez e meia, aqui nesta parte da Europa. Enquanto o sol ainda está alto, passo adiante os fatos.
O convite aconteceu em dezembro, quando da visita de meu amigo Armando Gonzales, para as festas de fim de ano no Brasil (e jà contei aqui, levei o visitante espanhol em Icoaraci, em Salinas, no centro de Belém, e o levei também para experimentar farinha na feira da Pedreira, na modalidade “lançamento a  palmo e meio”).
De lá pra cá, fui me aviando. Passaporte, um dinheirinho, lugar para deixar as crianças, férias do trabalho, passagem em dez prestações. E estamos aqui, agora, eu e senhora Edna, minha companheira, de flozô, nas médias latitudes. Pra quem passava as férias no Tenoné, heim?
Estar aqui, é a mesma coisa que dizer que encontramos um pote de ouro, aquele que está no fim do arco íris (se estiver faltando hífen aí, me perdoem, é que ainda não estou muito aquele em  escrever no computador espanhol). Mas não é lá muito fácil chegar aqui. Além das condições primárias da viagem (ter um amigo como o Armando, por exemplo), a viagem é uma pegada para fortes.
Como Belém não oferece vôos internacionais, tivemos que ir para o Rio de Janeiro. Depois de 13 horas sob a ginga, um friozinho gostoso, e a simpatia carioca, decolamos em direção a Madri. Agora, pensa. Coisa próxima de treze mil quilômetros. Uma varação de um hemisfério a outro de quase dez horas de duração. Pra quem é bom de cama, é uma beleza. Chega e dorme. A viagem é noturna e dá na biqueira, na hora do soninho. Eu fiquei ali no meio termo. Nos primeiros momentos, me entreguei â tensão. Valorizo essas coisas. Atravessar a Linha do Equador, planar sobre o portentoso Oceano Atlântico, desafiar as correntes convergentes. É bacana porque os serviços de bordo nos deixam informados de tudo isso. E, nas primeiras 4 horas de viagem, não dormi. Fiquei por ali, assuntando, perscrutando, curtindo essa sensação boa de ganhar os ares internacionais.
Depois dessa pisada voando, chegamos a Madri. Ali, exercitamos várias das faculdades humanas. Enfrentaríamos a imigração e não sabíamos ao certo o que poderia acontecer. Dizem que esta fase é uma grande loteria. E é mesmo. Passamos que foi uma maravilha. Depois da imigração, praticamos um pouco de cooper. O tempo voa. E tínhamos uma conexão para o Porto em 30 minutos. Então corre (no Rio, um amigo de viagem que fizemos por lá, nos avisou: tem que correr). Quando saímos da burocracia, nos avexamos. E este aeroporto de Madri é um mundo. Pega esteira rolante, corre. Pega elevador, corre. Pega trem, corre. Escada rolante, corre. Um estirãozão de salão, corre. É tudo muito bem marcado, com uma sinalização bem inteligível, mas a gente sempre acha que está perdido, que não vai dar tempo. Ainda bem que encontramos gente pelo caminho, na mesma situação e partilhamos as carreiras.
Embarcamos para o Porto com certa tranquilidade e com créditos de tempo (as minhas caminhadas matinais, afinal me valeram, heim). Porto foi o primeiro sinal de que encontraríamos um pote de ouro. Sabe os azulejos de Belém? Nos deram as boas vindas, em Portugal.

Um comentário:

  1. "Viajar é mais..." Toninho Horta. Outra boa do Fernando Pessoa: "Para viajar basta existir".

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