quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

crônica remix- diálogo

Diálogo
- Eu sei que dizem por aí que a minha vida é tesourar, mas eu não tô nem vendo. Olha, mana, meus filhos já estão criados. A minha casa está arrumadinha, a roupa lavada e engomada, o jantar tá pronto. Eu é que não vou ficar enfurnada dentro de casa. Deu de tardezinha, ponho a cadeira na calçada e fico apreciando o movimento. Olha, olha, tás vendo? Tás vendo? Não é querer falar mal da vida de ninguém, mas aquela ali não é mais moça. Espia, espia aqui nessa parte, tás vendo? Não une. Conheço só pelo andar, maninha. A mãe coitada, acha que ela é uma santa. Mas tá, cheirosa! Pra cima de moá! Conheço. Só pelo andar. E lá vai Flor. Olha, mana, tô te falando. Quero que um raio me cegue se eu estiver inventando, mas a Flor tá enfeitando a cabeça do marido. O pobre tá que não entra mais em casa de tão espaçoso que tá (aqui na testa). Um homem tão bom! Mas é assim mesmo, mulher não dá valor a homem muito manso. Mas aquela ali não é Verinha? Eu quero cair durinha com doze facadas, se eu estiver enganada, mas é certeza que Verinha está grávida. Tô sabendo que tá de partida pra São Caetano. Vai pra lá, pra ninguém saber. Mas não adianta esconder. Menina nova com aquela cara pálida de doente, eu já sei: emprenhou. Mas também, égua da pequena foguenta. Vivia aqui em casa atrás do meu menino. A mãe num desespero só. Dizia até que eu acoitava. Eu avisava: prenda a sua cabra que o meu bode tá solto. A mulher fez porque fez, que os dois se desencegueiraram. Num adiantou. Olhaí. Não se perdeu com este aqui, se perdeu com outro que ninguém nem conhece. Eu vou te contar essa, mas pelo amor de Deus, não conta pra ninguém: Dica está com uma doença feia. Era uma bifede que ela tinha na orelha. Passou pra dentro do ouvido e furou o tímpano. Infeccionou. Anda pra cima e pra baixo, tomando tudo quanto é remédio, e a inflamação, nada. Dizem que foi um trabalho pra ela deixar do marido. Coisa braba, mana. Axi, lá vem a ricaça. Pensa que eu não sei. Toda emperiquitada, nariz empinado, mas tá pior do que a gente. Verdade, mana, por essa luz que me alumia. Anda toda emplastada de maquilagem, cheia dos michelini, mas tá no fundo do poço. Dizem até que vão vender a casa da Arterial, pra pagar dívidas. Tu viste este que desceu do carro verde? É o caso da Dora. Dizque é cheio da grana. Ele chega uma horinha dessa e larga só lá pra de noitinha. É casado, com certeza. Agora a verdade seja dita, ele faz todas as vontades dela, mas tá certo, comendo da fruta todo dia, o homem tem mais é de ficar mão aberta mesmo. Na casa dela tem de tudo em quanto e do bom e do melhor. Ele vai até mandar reformar a casa. E o Silva, menina! Todo de carro novo. Eu vou te contar, não sei onde esse povo arruma tanto dinheiro. Um homem que não tem nem o ginásio, menina, com um casarão desse, um mulherão, que é a Margarida (e ele que ainda é feio que dói ), e festa todo fim de semana. E a gente só aqui, sentindo o cheirinho do churrasco. Pra mim é trambicagem das boas. Olha, menina, eu vivo a minha vidinha aqui com os meus filhos. Eles não me trazem problema. Mas aqueles mau elementos ali da esquina, eu heim! Eu já armei o meu pé-de-cá-te-espera pr’eles. Cuidado, eles têm mau-costume. Aquela televisão deles, hum hum, se me perguntarem eu digo como eles conseguiram. Não sou baú. E não é só isso (ôxa! ), e esse povo de carro que vive batendo na porta deles (ai meu pai! ), uns bacanas arrumadinhos (mas que coisa chata! ). Pra mim ali é um ponto. Argh, como é que a gente fala pra gato, mesmo?
- Sap, bichano!
- Sap, gato!    

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