sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Crônica da semana - além do

Além do horizonte
É. Sou assim, meio tantã mesmo. Tenho as minhas esquisitices.    

Semana passada, fiz uma pequena palestra para os alunos do Projeto Revisão Solidária, aqui de Barcarena. Falei sobre o fenômeno das marés. O objetivo era mostrar para os meninos que um evento astronômico com este status não se reduz à solidão sideral. Muito pelo contrário, a maré vazante ou enchente, mais do que a gente pensa, regula a batidinha diária de muita gente aqui, ao rés do chão.  
Lá pelas tantas, quando relacionava as fases da lua com a amplitude das marés, um dos alunos me interrompeu e manifestou a impressão de que eu era demasiadamente entusiasmado com o assunto. Eu confirmei este encanto e ele de pronto sugeriu que, então, eu poderia ser considerado um lunático, porque viajava pelo mundo da lua. Verdade. E lá vai mais uma aí para a conta das minhas estultices: De uns tempos pra cá, desde que assisti ao filme “1492- A Conquista do Paraíso”, cismei com uma cena. O filme conta a história de Cristóvão Colombo, suas aventuras e desventuras na América. O Diretor Ridley Scott (consagradíssimo pelo clássico oitentista Blade Runner) põe, logo no início do filme, o genovês Colombo sentado à beira do oceano fitando o horizonte. Na sequência, um barco é enquadrado navegando em direção ao sol, até desaparecer no abismo de água. Daí, a gente tira a dedução do Colombo sobre o formato da Terra e o filme segue.  
O que me impressionou mesmo, na cena, foi aquele realce, aquela riqueza plástica com que o diretor retratou o horizonte. Aquela paisagem ensejou um espetáculo silencioso que me arrebatou. Que me mundiou. E até hoje me inquieto com aquele fim de mundo chamado horizonte. De lá pra cá, tenho me empenhado em descobrir onde, na prática, é o horizonte. Onde é o lugar em que o mar encontra com o céu. Olha só, com o que doido se bate. E tô aí, há um tempão tentando, a revés de ás, de través de bês, me aperreando, me arreliando, desouvindo chacotas, despachando pilhérias e encarnações. E eu me abicorando por causa disso. Me desaviando ensimesmado, macambúzio, e dessemelhado. Misantropo das artes, das desobrigas e das gentes.  
E, sabe, esta solidão e este apagão social até que me valeram: neste vai não veio, descobri que há um jeito da gente calcular a distância do horizonte. E não era esta a minha aflição? Pronto, meus problemas acabaram. Está tudo lá na internet. Tudo direitinho, tudo ajeitadinho, pra gente se desopilar e ser feliz de novo. É até bacana de calcular. Basta formar um trianglinho retângulo básico, aplicar o teorema de Pitágoras e estar de par com uns conhecimentos prévios indispensáveis; alguns fáceis, como saber a própria altura; outros mais aquele de difíceis, como saber o raio da Terra ou ser capaz de resolver umas continhas de mais, de vezes e uma inofensiva raiz quadrada. Coisa pouca.  
Se não quiser ter esta dor de cabeça, ou não se sentir à vontade para este encontro com a matemática. Nada a temer. Há sites que já trazem uma tabela para distâncias ao nível do mar (mais ou menos uma praia como aquela em que o Colombo do Ridley Scott teve um lampejo). Ali, da escadinha do Ver-O-Peso, dá pra achar o horizonte. Ele escapa da cortina de árvores e desenha a linha d’água entre a ilha das onças e aquelas pontas de terra perto de Cotijuba. Eu sei. Agora eu sei, exatamente, onde é aquele lugar. Onde, para mim, é o meu mundo novo. A ‘minha América, minha terra à vista’.
(A distância do horizonte é função da altura do observador. Quando mais alto ele estiver, mais longe. Como sou gitito, o meu horizonte é perto. Muito perto).

Um comentário:

  1. Né não, é um metro e ciquenta E UM de um xapuri queu adimiro.
    Obrigada meu querido agora tenho muitos verbetes pra consultar no larousse, mas ja penso que só no "sodréousse" irei saber os significados.
    Rsrs

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