sábado, 15 de outubro de 2011

crônica da semana- nos conformes

Nos conformes
Só falta mesmo me lambuzar com o mel da maçã do amor, me atracar a um pacote de algodão doce e levar os pequenos para uma rudada no carusser. O resto, tudo eu já fiz neste Círio. Por enquanto, tá tudo nos conformes (as pendências; já, já a gente resolve).  
Este ano não vacilei. Já tenho meu roc-roc (dois, aliás. Um comprado na Feira do Miriti e outro ganhado da galera do Pavulagem, no dia do arrastão), a minha fitinha, o meu leque, o tec-tec batendo palminha, o meu encarte de O Liberal com a imagem da Santa. Já fiz um esforço sobre-humano pra chegar perto da Berlinda, me perdi de propósito no seio fervoroso da multidão, entendi a minha fé e me acabei na maniçoba, depois da procissão.
Vivi, de vários jeitos e maneiras, cada um dos momentos do Círio. Todos muito marcantes. Mas o meu instante de entrega, a minha fatia mais intensa de deslumbre e encantamento, é a chegada da Romaria Fluvial. Fico num pé e noutro para o desembarque da Santa.
No ano passado, quase perdi a chegada da Fluvial. Daquele jeito, né. A menina escovando o cabelo, a mulher experimentando a roupa, o menino pegado no café com pão. E o tempo correndo. De tal forma, que, quando bati o pé na Praça da República, a Santa passou. Éraste, fiquei piriricas da vida! Perdi toda aquela emoção na subida da Presidente Vargas. Gosto de ficar no meio do povo. Sentir a ansiedade. O calor da espera. A agitação na chegada dos barcos. O foguetório...E até a barulhada das motos. Ano passado, fiquei sem. 
Mas este ano, não contei conversa. Não esperei ninguém. Tomei um café rapidola e nove e poucas zarpei. Fiz a coisa mais certa (mulher e meninos ficaram em casa, se arrumando. Quando eles chegaram, eu já estava, ó, pleno de fé e contentamento). Não corri risco, este ano. Tô vacinado.
Depois de ver a Santa, fui viver a minha máxima: “o importante é a companhia” (falo isso pros meus meninos. Às vezes, eles querem debandar com a pariceirada, dar uma fugida, logo nos meus dias de folga, junto a eles. Nananinha. Não deixo. Justifico com a necessidade do aconchego, do chamego e desando em entrelaços analíticos, principalmente pro Argel, que é o mais velho e o mais saidinho. Recito: “teu pai tá aqui, tua mãe tá aqui, tua irmã tá aqui. Pra que tu queres sair, rapá? Bora ficar perto”. Infalível este meu trançado de argumentos. O menino é logo que aquieta o facho).
O sábado que antecede o Círio traz muito desta máxima. A família (que chega atrasada, mas chega), os amigos. Tem o solão? Tem. Tem a caminhada até a praça do Carmo? Tem. É um estirão? É. Mas tem a graça da cultura popular, o banho de cheiro no Veropa e a comunhão com pessoas queridas...
Para mim, é a bênção da convivência. Não há sofisticação nem não-me-toques emplumados, no sábado. Não há frescurite nem ásperos chiliquitos de neo-riquinhos. Há o doce suor. Há a companhia. E isso é o que vale. Na véspera do Círio, o que dá causa, é poder contar com o humor da minha comadre Valéria Nascimento; com a doçura e com a serenidade da querida Vânia Torres; com o espírito de liberdade e com a alegria inesgotável da Lorena; com a arte de Laila e larissa. O que dá vez, no sábado do Arrastão é poder passar a tarde trocando figurinhas com o Edson Coelho, poeta-parceiro-perfeito e interagir com a turma da geologia. O que rende é tirar fotos com os filhos naquela floresta de miriti (“o importante é a companhia”).
Meu Círio tá tudo nos conformes. As pendências, já, já, resolvo: de tardezinha, vou orar pra Santinha, na Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré, dar uma volta no largo e me lambuzar com o mel da maçã do amor.

3 comentários:

  1. bons momentos né?!!! acho incrível como o círio mexe com as pessoas, parece mágica. eu não sou tocada por essa mágica, mas é impossível não ficar de boca aberta olhando um rio de gente que segue na mesma direção, com o mesmo propósito. bom fim de semana e come uma maçã por mim!!!!

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  2. Sódri, vim aqui para terminar de ler esse texto fofo e dei de cara com a minha favorita: O Dia mais Feliz da Minha Vida! Considero-a linda, lírica, daria um lindo curto metragem de uma época recente, a cara das coisas daqui, a cara de um garoto da nossa urbana Belém. Parabéns por respirar sensibilidade e traduzí-las tão bem!!! Tua comadre,Valéria

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  3. Arrepiou os cabelos do braço.Sério!
    Um abraço.
    Zé Maria9Pirão de feijão)

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