quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Olha pro céu

Eu estava em Rondônia quando, numa viagem em companhia do Geólogo Roberto Moscoso de Araújo, fui apresentado, pela primeira vez, aos encantos do céu.
Nos primeiros instantes da viagem, Moscoso me perguntou se eu conhecia alguma coisa do céu noturno. Eu, meio sem jeito, meio envergonhado, confessei-me completamente zerote sobre o assunto. Roberto então desandou, com muita elegância, na lição.
“Tá vendo ali, as Três Marias?”, ele dizia. “Ali, as três estrelas juntinhas, tá vendo?” Eu não via nada. “Ali,”, insistia, pacientemente, o meu amigo, apontando, sem medo (de ganhar uma ‘berruga’), o dedo para as estrelas.
É sempre assim. A gente, de prima, não atina para o negócio. Se embanana todo no meio de tantos pontos brilhantes e não consegue ligá-los nos conformes da figura.
Mas fiquei atento e, levado pela enorme generosidade de Roberto Moscoso, fui aos poucos reconhecendo: as Três Marias... Na verdade, o Cinturão de Órion, o Grande Caçador. Depois, brilhando tímidas no céu, Plêiades, as sete irmãs (conhecidas como Chavinha ou Tercinho) que têm a característica de serem melhor percebidas com a visão periférica. No canto abaixo de Órion, Cão Maior, exibindo a arrogância de Sirius, a estrela mais brilhante do céu. E, protagonizando o cenário, a constelação de Touro trazendo o caprichoso vermelho de Aldebaran.
Uma breve amostra para mim naquela noite (mas ‘um indispensável recado para a humanidade’). Meu amigo me trouxe uma das paisagens mais ricas, esteticamente e culturalmente, do céu e me revelou não só a sua beleza como também, a sua aplicação, a sua importância para o desenvolvimento das sociedades (as estrelas foram essenciais para a elaboração de calendários agrícolas, na Antiguidade).
Depois daquele dia, colecionei uns quantos mapas do céu, li um livro de Astronomia (e que ninguém nos ouça: tomei emprestado e não mais o devolvi para o dono), acompanhei a passagem do cometa Hale-Boop  e cometi o erro de comprar um telescópio (?) no shopping. Localizo agora os planetas e mais algumas constelações, faço previsões de marés em função da lua e procuro partilhar o meu prazer com os outros, usando a mesma didática do meu Mestre: “tá vendo ali, as Três Marias?” Mas os meus amigos nem me ligam. Acham que é bobagem. Que eu sou meio tantã. Às vezes, só pra me agradar, me enganam dizendo “tô, um trianglinho...tô vendo...Pronto”, e se desligam desinteressados. Com minha filha, sobre Júpiter, nem a dica funciona: “e aquele ali, minha filha, com brilho forte, é o maior planeta do sistema solar. O nome dele é...Jú...Juuuú...”
E ela, docemente, responde: jujuba, pai.
E eu, por mim, continuo olhando pro céu.

Um comentário:

  1. oi sodré, eu acho o céu lindo, principalmente quando tem estrelas. mas, confesso que não sei reconhecer nenhuma constelação. as pessoas dizem: olha lá o desenho de tal coisa. e eu não vejo nada!!!!! mas, estrelas são estrelas...

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