sábado, 11 de fevereiro de 2023

crônica da semana- o amor e os sólidos platônicos

 O amor platônico, o Icosaedro e outros medos

Tá bom, essas formas geométricas particulares são difíceis de entender. Muita viagem de Platão. No entanto, já chegaram a justificar nossa existência. Logo voltamos a elas. Por outro lado, o amor platônico a gente dá conta e sabe. É inatingível. É aquele que acontece quando a gente tá a fim, mas a outra pessoa, nem thum. Nos românticos causa sofrimento, dor, formigamento no  lado esquerdo do peito. Mal do século. Aos racionais inspira compreensões, ponderações, aprendizados e até oportunidades de negócios lucrativos e de sucesso, como nos conta Eça de Queirós em “Alves & Companhia”. É aquele amor doce, nutrido pelo Eros espiritual, divino. Distante do amor regido pelos Eros vulgar, carnal, terreno. O amor platônico nos confina em uma caverna donde só nos são permitidas as sombras de um mundo delirante, grandioso, repleto de prazeres e risos fartos. Uma hora ou outra, sabemos notícias de felicidade, sempre contemplando outras pessoas e esvaziamos ainda mais por dentro, nos introduzimos mais ainda na escuridão e no abandono. É um amor que sublima, que transcende. Tira a gente do chão da vida e nos põe em estado de apagamento e torpor. Nos emudece, nos cega, nos ensurdece. Alguns que amam e não são amados fazem poemas de tonelagem dramática colossal e que são belos, embora pesadíssimos. Outros riscam tristezas dentro de si e vomitam sangue. A maioria, porém, atravessa os dias na normalidade, embora, um gosto estranho de fel na boca. O amor platônico é eivado de contradições, de tantas misteriosas intimidades, e de tal forma complexo que mais leve me parece, continuar esta crônica dando ibope para os 5 sólidos de Platão. Alguém já ouviu falar? E por que 5?

São figuras geométricas que têm volume. Aparecem também tentando explicar o mundo pelos argumentos da Filosofia. Surgiram a partir de figuras planas. Um quadrado, por exemplo, que não tem volume, pode formar um cubo, que tem. Platão coletou propriedades comuns a estas figuras, estabeleceu limites e critérios no sentido de conceber regras de composição e viu que a partir de figuras planas como o quadrado ou o triângulo, poderia criar infinitas outras figuras sem volume. Mas somente 5 com as três dimensões que dão volume aos objetos. E fazendo as experimentações, montando as peças, desenhando, intuindo, o Filósofo viu nesta limitação de combinações a elegância e a delicadeza da Natureza se exibindo em plenitude e se revelando em seus elementos criadores. Os nomes dos 5 sólidos são difíceis de pronunciar ou decorar, mas são legais de conhecer e de saber o que simbolizam na visão platônica. Tetraedro, por exemplo, que tem quatro faces, representa o fogo. O Octaedro é uma bipirâmide de base quadrada e simboliza o ar.  Icosaedro tem o maior número de faces e traduz a fluidez da água. Tem o nosso Cubo, de nome clássico Hexaedro, que pela rigidez, só pode lembrar a Terra. E por último, o Dodecaedro que pelas 12 faces é relacionado ao universo e também às 12 casas do Zodíaco. Legal, né. Esta perfeição na composição dos 5 sólidos, na visão de Platão condensava os elementos essenciais para a existência do mundo.

Mais tarde, o astrônomo alemão Johannes Kepler se apoiou nesta construção platônica para elaborar a teoria do Heliocentrismo, onde admitia a órbita do Sol ser percorrida por apenas 5 planetas (tal qual o modelo perfeito dos 5 sólidos). Ao publicar seu trabalho, Kepler também pensou ter revelado o segredo geométrico da natureza. Muita viagem, né. Na real, os 5 sólidos e seus mistérios contém tantas contradições quanto o amor platônico.  São leves e ao mesmo tempo pesadíssimos do jeito de um amor não correspondido.

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