sábado, 12 de novembro de 2022

crônica da semana - o patrono

 O Patrono

Agora, no final de outubro, a Academia Barcarenense de Letras realizou a primeira Assembléia Ordinária da entidade. Constou da pauta a cerimônia em que cada membro escolheu o seu patrono. Na hora me veio uma paz, uma leveza de perpetrar o ato com o carimbo de um eficaz recado. Escolhi Rufino Almeida como o patrono da minha cadeira. Foi a maneira de dizer para Barcarena, para a família do Rufino, para os companheiros de prosa e verso e para o Rufino que vive em nossas memórias afetivas e literárias que ele não passou por essa beira de rio em vão.

Sobre meu patrono.

Rufino Almeida foi um homem da ação. Absoluto e prático.

Ativista. Defensor das condutas urbanas (lutou em campo minado contra o hábito de fumar nos ônibus e ambientes fechados). Atleta empedernido (além dos 70 anos de idade, competia em todas as campanhas esportivas locais, nacionais e em várias modalidades). Fotógrafo dos grandes eventos culturais (boas lembranças os escritores paraenses têm registradas, por ele, das primeiras Feiras do Livro, no Centur). Escritor em várias frentes e vezes. Contista, cronista, poeta, crítico, trovador.

Inspirador do companheirismo, formador e disseminador do espírito coletivo, foi membro entusiasta, ao lado de estrelas como Ruy Barata, da Associação Paraense de Escritores. Pertenceu junto com o poeta Antonio Juracy Siqueira à União Brasileira de Trovadores Seção Belém e também na UBT, assumiu a função de vice-presidente de administração. Era um sonhador este barcarenense. Empregava desmedida fé na união dos escritores.

Revisitando a obra “Quaterno”, que ele classifica no predicado do título, como sendo de “crônicas, contos, cartas e discursos”, localizo os vários nichos estilísticos de Rufino e ainda me certifico do caráter de pleno cidadão que o envolve, como ilustra o jornalista Lúcio Flávio Pinto, na orelha do livro: “Rufino é um homem que lê, ouve e informa, empenhado em projetar-se em sonhos e utopias. Até por força de suas práticas esportivas e da luta pelo pão de cada dia, circula intensamente pela cidade de Santa Maria de Belém do Grão Pará e seus arredores, como a Barcarena, do seu nascimento”.

As circunstâncias, a construção de uma articulação mínima entre escritores nos permitiram encontros freqüentes na “Banca dos Escritores Paraenses”, espaço coordenado pelo escritor Cláudio Cardoso, na Praça da República, nos últimos tempos. Desses encontros, resgato “Poemas Nus”, edição de 2011. Tenho o livro de poemas autografado na página de rosto, e, donde, mais adiante, em nota, o autor reproduz um texto que o acompanha desde a primeira publicação, em 1984. Nele, uma narrativa quase em código.  Um recado: “a pretensão de ser um dia reconhecido, ainda que na posteridade, requer a prática de um insistente exercício de paciência e resignação ante à indiferença dos que vêem a literatura e, especificamente, a poesia, como um gênero menor. Embora a busca do sucesso seja o principal objetivo de todos os que se lançam em qualquer segmento das artes em geral, confesso que meu principal objetivo é dividir solidariamente com os leitores, minhas emoções experimentadas, ao longo da vida”.

Nascido em Barcarena, Rufino Almeida viveu 30 anos no Rio de janeiro. De volta ao Pará, nos contou sonhos.

As palavras de Rufino nos indicam o caminho.

Em trinta anos de literatura publicou, entre outras obras...

Quatro caminhos; Poesia Nua e Crua; Poemas Nus; Quaterno; Sincrônicas; E os infantis, A menina que soltava passarinhos e O sapinho guloso

Não passou por essa beira de rio em vão.

 

 

Um comentário:

  1. Raimundo, sempre um prazer ler você e, quando é um testemunho uma impressão sobre um artista como Rufino, nosso patrono na Academia Barcarenense de Letras (diga-se de passagem, nome sugerido por você) é melhor ainda.
    Obrigado Sodré.

    ResponderExcluir