segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

O flagra -livro maio

Alguém apareceu no quintal (O flagra)
Naqueles tempos, havia apenas três telefones públicos no bairro. Um no Supermercado Carisma e outro no Pisco, localizados no eixo da Pedro Miranda e um outro, deslocado para as quebradas, no bar Pedra Noventa, que ficava na Lomas com a Marquês.
(Ela morava por ali, ao pegado do Pedra Noventa. Não tinha telefone em casa. E também, o telefone do bar prestava-se mais para coisas da dia-a-dia: acionar uma ambulância, deixar recado para amigos, matar saudade de parentes distantes. Para os reclamos da paixão, não servia não).
Além do telefone público, um ar de vanguarda também pairava sobre o Pedra Noventa. Algumas fichas caíam sobre os jovens que se juntavam por lá e sobre a petizada que orbitava as reuniõezinhas dos grandes. Nessa época conheci sons profanos como o do Creedence; alucinados, como os ponteados de Santana, e ainda uns bregas em francês que marcavam as contradanças nas sedes do Santa Cruz e do XV. Eu não me metia na parada dos grandes, mas ficava ao largo, orbitando...
(Um dia ela me chamou para ver alguma coisa no quintal. A casa era quase de esquina. Tinha uma fachada clara e um amplo ‘chagão’. Era por ali que a gente chegava, sem ser vistos, à sombra dos cajueiros. Ficamos por ali, falando coisas banais, catando sementinha do chão, fofocando temas do vulgo... Era um terreno úmido, um barro escuro e liso. Havia uma valetinha encostada da cerca, por onde escorria a água que vinha do jirau e ia dar num fundo cheio de capim. Um pé de café, um de caju, duas goiabeiras e umas quantas pimenteiras, completavam aquela paisagem agradável e perfumada).
Entre os grandes, que já tomavam uma coisinha mais forte e ouviam jazz, no balcão do bar Pedra Noventa, alguns já galgando degraus importantes na vida. Haroldo, calouro de Letras, com a cabeça raspada e a boina da Federal e Corôa, graduando e já versado em Engenharia Florestal na Escola de Agronomia do Pará. Galo, Torto, Pindoba, Nazaco, Pela-Pela, Deonde e Lourival, completavam a turma. Com destaque para Lourival que além de contumaz frequentador do balcão era um músico de primeiríssima e, apesar do joelho bichado, mandava prender e mandava soltar, como quarto beque, na zaga do Natal. Todos, de certa forma, eram meus ídolos. Não sei bem por quê. Talvez pela tez libertária com que recobriam suas vidas.
(Naquele dia, o bar Pedra Noventa estava movimentado...((continua no livro que vai ser lançado em Maio))

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