sábado, 18 de agosto de 2012

Crônica da semana - mauriti


Só deu Mauriti

Semana passada, comemoramos o dia dos pais almoçando fora. A minha galerinha foi quem escolheu o lugar e o de comer. E eu só dizendo sim, sim pros filhinhos...Vamos lá...Tava tudo liberado. 
O ambiente não podia ser melhor, ainda mais porque ali, só deu Mauriti. Tanto na forma urbanizada, com ‘i’ ou com o estilo do sobrenome, com ‘y’. 
Com ipisilone, pintou no pedaço, o meu amigo Clóvis Maurity, geólogo e parceiro de primeira linha. E representando a minha rua, o Amarildo, músico esmerado, cria das mais proeminentes da travessa Mauriti. 
Morei uma pá de anos na Mauriti. Minha patota, de vera, era pinçada do perímetro entre Marquês e Pedro Miranda. Havia gente boa também, além destas fronteiras, mas a gente se dava mesmo era naqueles limites. Ali, criamos amizades, entabulamos futuros, discernimos condutas e formamos o imbatível, o insuperável, o glorioso e inesquecível Internacional da Mauriti. 
Era um time de molecada, ali na faixa dos 14, 15 anos. Mas éramos pra-frente, não medíamos adversários. Jogávamos contra o time dos grandes do bairro, contra os expoentes do campeonato de peladas, contra os juvenis do Remo, Tuna, Paysandu, nos enxeríamos nos campeonatos que rolavam no campo do  Asas do Brasil,...Infernizávamos a vizinhança montando pelejas de travinhas nas calçadas (e vez ou outra recebíamos de volta, por cima do muro uma bola bandada por um morador descontente) e ajustávamos a performance no campinho de serragem do ‘Seu Preá’ ou no quintal arborizado do ‘Seu Ataualpa’. 
Formávamos uma tribo bem treinada, ali naquele pedaço. Nada de exageros. A bola nos unia e sobrava pouco tempo para a peraltice mais pesada ou para o desequilíbrio. Não lembro de um isso de desavença com os moleques de outras barras, não vivi nenhum caso de briga de ruas, de enfrentamentos ou intrigas. Não éramos santos. Mas nossos arroubos nunca iam muito além da pálida inocência. Nos tempos livres, nos reuníamos no canto, embaixo de um pé de acácia, ou na frente do Cinema Paraíso, para prosas e chacotas comuns da idade. O máximo de vilania a que nos demos fazer foi, em noites escuras, atarmos aquele âmago da corda de cebola a um fio preto, postá-lo nas calçadas e quando alguém passava, puxávamos com força e rapidez fazendo o movimento do farrapo parecer uma cobra se esgueirando. O transeunte ficava pê-da-vida com o susto. 
O encontro com o Amarildo, no restaurante, no dia dos pais, me trouxe de volta bons momentos da adolescência, me animou as lembranças, mas também, e infelizmente, me apontou a certeza irremediável do fim (alguns dos nossos craques do Internacional da Mauriti já se foram)... 
Já o Clóvis Maurity me inundou de presente e de esperanças. Traz a vida no sorriso (é vovô novo). Chegou no restaurante pedindo lugar para oito pessoas. Isso prova o quanto o Clóvis é uma pessoa dada, acessível, generosa. Dá vontade mesmo de Estar junto dele. 
Nos conhecemos em Altamira, no final da década de 1980. Formalmente, Clóvis emprestava seu talento a um projeto liderado pelo Museu Emílio Goeldi. Mas o brilhantismo do Clóvis se espraiava para fora dos contornos administrativos e ia dar nos escurinhos das cavernas. Era (e ainda é) um apaixonado pela geometria, pela mineralogia, pela antropologia, pelos escaninhos comprimidos das cavernas, e tão e tanto, que no dia seguinte ao domingo dos pais, e mesmo de folga do trabalho regular, já se ajeitava para fazer mais uma visita às formações de arenito, nos arredores de Itaituba. 
No dia dos pais, só deu Mauriti. Com ‘i’ ou com ‘y’, tanto faz. Compõem, enfim, formas que tenho em elevada conta, nas lidas e na vida.   

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