sábado, 3 de junho de 2017

crônica da semana- janeiros

Janeiros
É o quarto episódio de uma aleatória temporada da série que mais com pouco explico. Vai ter sessão de autógrafos hoje. Sei que aos sábados, tenho muitos leitores que me acompanham aqui na coluna. Em outros lançamentos, tive oportunidade de conhecer alguns de vós. Seria bom nos vermos. Apareçam.
Fosse outro o caso, eu poderia até oferecer um caldo de cana com pão doce, um Q-suco de groselha com broa polvilhada. Mas, Deus te livre e guarde! Não pode. O regulamento da Feira do Livro é rígido. Não permite seduções e nem prazerosos intermediários. A coisa é ali, entre o autor e o leitor. Ninguém se mete.
“Janeiros” é a realização de um desejo que venho cultivando desde 2013. Tô querendo guardar em livro, as crônicas que venho publicando no jornal. É uma missão. São quase quinhentas crônicas. Isso em uma única edição sairia uma fortuna, então, venho picando as publicações, em episódios, sempre que aparece uma graninha. Nesta leva de intenções, a série vai se ajeitando. Na sequência das edições vieram “O rio do meu lugar”, “A rainha do rádio”, “Corrente” e agora, este “Janeiros” que vos apresento. Por enquanto está tudo nos conformes. O bom pai tem me ajudado e meu projeto tá caminhando rente como pão quente.
As outras edições da série foram temáticas ou enquadradas em razões para se realizarem. Ora conceituais, ora sentimentais, ora estilísticas. “Janeiros” obedece a esta cobrança formal que me imponho.  A composição do livro é inspirada em uma dinâmica textual muito usada por Nelson Rodrigues, e evidente em “O Óbvio Ululante”, coletânea que terminei de ler dia desses. Arremedando a pegada do autor, “Janeiros” é formado pela repetição de temas. Nos meus escritos, encontrei eco no método abonado e assumido, por Nelson. Reparei que abordo o mesmo assunto umas quantas vezes. Mas dei, também, que este é o grande desafio, o grande barato. Dar movimento, tratar tramas constantes de formas variáveis, esta é a motivação. Sinto benzinho essa pressão nas crônicas que escrevo no mês de janeiro. É o mês de aniversário de Belém e há anos dedico a coluna à cidade. Com o cuidado de dar roupagens diferentes às histórias. Um ano falei da geografia, em outro mirei na arquitetura, mais outro e apontei para o coração de quem ama Belém. Uma versão que me deu muito gosto fazer foi a que expressei a relação com a cidade, do ponto de vista de alguém que está distante. Centrei a narrativa no Acre e criei uma personagem inspirada em minha mãe. Muitos segredos não vividos se revelaram para mim, naquela experiência.
Uma construção cíclica, tendo uma Belém inalterada sentimentalmente, e em contrapartida, travestida de incertezas, exige sempre um recomeço e uma guinada estratégica ao racional. Reescrever, reiterar o já dito, o já vivido, o já pensado, é sentir-se à vontade para nascer de novo e ver o cotidiano com outros olhos, com outra voz, com braços e pernas livres. Novos olhares são novos saberes, são novos prazeres. São janeiros.
A reinvenção de temas pauta o meu novo livro. Todo janeiro, me renovo.  Em “Janeiros” me reinvento. Borilá. Espero vocês à noite, no Hangar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário