Minha
pedra é ametista
Domingo
desses, na viagem aqui de Barcarena para Belém, desci no Ver-o-Peso, tracei um
completo de coxinha de frango com suco de cupu, numa das barracas de lanche e
fui dar um rolé pela feira (cedinho assim do dia é muito bacana aquele lugar.
Rola o orgulho da diversidade ribeirinha ali em cores, sabores, odores. Na
prosa e no jeito). E eis que, como por encanto, fui bater no corredor das
erveiras. Naquela hora, lembrei que no meu aniversário pedi a amigos próximos,
de presente, uma coleção daqueles vidrinhos com essências coloridas que são
vendidos ali (como souvenires ou para precisão mesmo). Ninguém se abalou pra me
aviar o gosto (o shopping, o shopping...nos afasta das tradições e nos reprime
os desejos). E fiquei só na vontade. Em ali estando, não contei conversa. Eu
mesmo me presenteei. Escolhi uma fieira sortida, pedi (ao erveiro!) um desconto
e mandei embrulhar aquela ruma de simpáticos vidrinhos cujas essências
mostravam-se em pigmentos variados, em volatizações agradáveis, e cada uma, com
o seu cada qual: Talismã do emprego, Abre
caminho, Atrativo da fortuna, Dama da noite, Dinheiro em penca, Faz querer quem
não me quer, Afasta olho gordo, Chama homem, Talismã da felicidade, Chama
mulher, Pega e não me larga, Talismã da sorte, Chora nos meus pés, Amansa
corno, Carrapatinho, Chega-te a mim, Atrativo chama dinheiro...
Arrematei
um feixe completo, não porque eu estivesse com urgentes necessidades, na pira,
né. Era o meu presente. Tava a fim. E o certo é que gosto das histórias que as
essências contam, me aprazem os dizeres, as cores fortes com que os extratos se
apresentam. Compete, também, para a minha atenção aos produtos, as mensagens e
intenções, sempre boas. Até o Amansa
corno é uma essência de paz. Prega a resignação e o deixa pra lá (pra que
estresse, já?).
Importa
também saber que estou feliz. Pendurei a correntinha num cantinho da sala (meio
que reproduzindo a disposição nas barracas lá do veropa) e fico apreciando aquele
espetáculo matizado pendendo no vazio da parede. De vez em vez vou lá dar uma
chacoalhadinha para energizar (e também pra provocar um contato animado entre
os frascos, porque me é assaz agradável aquele barulhinho acanhado de vidrinhos
atritando uns com os outros. Coisa minha, sabe, barato que não se explica).
Aí,
passou, passou... e vi na TV que vai ter um remake da novela O Astro. A
música-tema da novela (‘Bijuterias’, do João Bosco) logo me chamou a atenção e
me lembrou das minhas manias.
A
minha pedra também é a ametista. É uma pedra requintada, tem valor no comércio
de gemas, enfeita colares, anéis e jóias finas. Não é, porém, feição que me
agrada, a pedra lapidada. Prefiro a forma bruta. Aquela que traz os segredos e
a simetria da criação. Tenho alguns exemplares aqui em casa. Cristais de
lilases modestos (os mais agressivos, os mais intensos são ferrenhamente
disputados pelo mercado), mas de brilho suficiente para me seduzir. A pedra
exerce um fascínio milenar sobre os homens. Há uma crença de que ela ajuda a promover
a paz e a acalmar o espírito. O brilho lilás da pedra é tido como anteparo para
males e pensamento negativos (quanto mais afasta as maldades, mais fraquinho
vai ficando o lilás).
Tenho
meus tiques, mas dizque, não sou supersticioso.
Procuro sustentar que minha inclinação para estas linhagens de talismã se dá
pelo fator estético, pelos atrativos sensoriais (envolve cores, formas,
simetrias, sons cheirosinhos...). Mesmo porque, não obstante, o lilás da
ametista impressione, a minha cor preferida é o amarelo do citrino.
Nenhum comentário:
Postar um comentário