Um
Beijo e Um Abraço
Um
beijo e um abraço é o presente que sempre peço no Dia dos Pais, ou no Natal, ou
no dia do aniversário.
Ensaio
com os meus filhos os passos que me foram ensinados pela minha mãe: não quero
nada de nada. Coisas como aquele velho par de meias bege ou a obsoleta caixa de
lenços quadriculados, não. Ou um sapato pai d’égua, de fivela doirada no
ladinho, não. Ou um jogo de toalhas compradas no mais chique armarinho da
Pedreira, não. Nem o profuso celular. Quero só, mesmo, é o amor e o carinho de
meus meninos.
Não
que eu exagere na conduta franciscana. Nada disso. Eu até que gosto de uma
sofisticaçãozinha aqui e outra ali, de quando em vez: uma rodada de chope e
bolinhos de bacalhau num cantinho refrigerado do shopping, ou o bom disco do
Buena Vista Social Club, embrulhado em papel de presente, pra completar a
festa. De vez em quando, mas que não me venha a reboque de simbolismos, que não
me venha substituindo sentimentos. As minhas frugais vontades são heranças
deixadas pela minha mãe, ah, a minha mãe...
Passei
dez anos andando por esta Amazônia exuberante, cavucando meios de vida. A minha
mãe sempre ali, longe aos olhos, mas pertinho, com a sua bênção.
E no dia do meu aniversário, em especial, ela reproduzia aquela crença de um presente ser sempre diferente de
bens materiais, e exercitava esta profissão de fé com uma cartinha ( pura emoção para mim, lá
no longe), que iniciava sempre assim “ Salve 14 de maio, dia em que recebi de
Deus o meu maior presente: meu filho...e parari, parará”
Neste
instantinho só, a minha mãe me derrubava. Lá no ermo amazônico em que eu
estivesse, me recolhia pávulo às ternas lembranças daquela mulher franzina e
portentosa que daquele jeitinho, sem recatos ou timidez declarava sua paixão.
E, orgulhoso, pendia eu, inerte, vencido pela enorme saudade da mamãe, para um
canto solitário do meu coração a debulhar lágrimas distantes.
Mas
o tempo, heim. Implacável a rotinizar as mais puras intenções. Nos anos
seguintes a cartinha se repetia inadivertidamente: “Salve 14 de maio...” E
assim, pelos dez anos que viramundiei por aí. E eu nunca que reclamei. Eu, heim,
Deus te livre e guarde, nem pensar! Sempre fiz a maior questão de receber os
escritinhos meigos da mamãe, no padrão dia- do- nevessário. E a sensação
era sempre a mesma. A de filhinho queridinho, amamãezado. Distante. Pertinho.
Sozinho no mundo, mas com a certeza da bênção maternal a me confortar.
Aprendi,
então, com minha mãe (porque ela fazia questão de explicar direitinho pra
gente, quando perguntada sobre qual presentinho desejaria ganhar, o quê lhe
bastava, realmente) a pedir um beijo, um abraço e muita paz em qualquer ocasião.
Aprendi o quanto um gesto simples se traduz em amor imenso, quando, perdido
pelas selvas amazônicas eu era encontrado pelas palavras carinhosas, sinceras,
abrigadas no aconchego de sua cartinha. Que iniciava, invariavelmente, desse
jeitinho: “Salve 14 de maio...”
PS.
Esta crônica é de 2006, tempo em que eu era bestão e não queria nada de
presente. Agora, quero sim. Quem quiser se habilitar...
Sabe
o que eu quero? Sabe as erveiras do Ver-o-Peso, todas elas têm um feixe de
vidrinhos coloridos pendurados nas barracas com essência de tudo em quanto (mas
é do vidrinho, e não da garrafinha. Aqueles vidrinhos pequenininhos de injeção,
sabe?). Pois é, queria uma fieira daquela completinha. E nem é custoso. Sei que
valho um tantinho mais, mas, cada um dos amigos entra com dois, três vidrinhos
(que dá aí, um e cinqüenta, dois reais pra cada) com cores diferentes e pronto,
já me dou por feliz. Sei que as essências são importantes (dizque tem uns
chamas pai d’égua, lá no meio), mas não é, propriamente isso que me atrai (mas
sabe, também, também). O que me atrai é a cor. Taí, de presente quero um beijo,
um abraço, paz e muita cor nesta vida que anda meio plúmbea.
Te dou o beijo, o abraço, uns vinis e a cor... serve do meu cabelo que desbota? haha
ResponderExcluirAté o sarau , amigo. =*