Ai,
meu pai! Quereria sentar aqui nesta quarta-feira e escrever uma crônica “alegre,
falando palavras boas de falar: luz de vela... barco, terra, mar... sol,
lua...mãe, irmã, mulher”. Preferiria prosear sobre beijo na boca, carinho,
cuticuti, tecoteco, ticotico, nheconheco.
Fico
só na vontade.
A
nossa verve, o nosso instinto, o nosso calibre de mamífero, estes últimos dias,
têm nos aprontado cada arrumação. E uma, maior que a outra, mais chocante, mais
apavorante que a outra. Éraste! chega a gente amofina.
Que
droga! agora, na largada do terceiro milênio, parece que estamos dando uma
guinada no rumo da nossa pré-história de urros e grunhidos. Parece que estamos
querendo voltar a ser rudes macaquinhos.
A
primeira cena do filme “2001, Uma Odisséia no Espaço” nos mostra uma batalha
entre os homens primitivos. Os gorilas se enfrentam ferozmente para garantir a
posse de um pequeno lago. Nesta seqüência, o filme revela uma descoberta
decisiva para a polarização do poder tribal. Um dos hominídeos percebe que pode
manipular pedaços de ossos de grandes animais e utilizá-los como arma. E assim,
com este argumento tecnológico, consegue subjugar o adversário. O desfecho da
batalha se dá com o macaco golpeando o inimigo com o pedaço de osso,
descontroladamente, desregradamente. O outro macaco já nem resiste mais. Já não
dá mais sinal de vida, largado inerte, sobre o lajedo, mas o macaco vencedor
continua triturando o adversário violentamente, raivosamente com aquele ossão.
Isso
foi mais ou menos o que aconteceu dias atrás lá no Tapanã.
O
que me assusta mais, o que me constrange e o que me abate é que cenas de violência
urbana sejam tratadas como cults cinematográficos e dêem mais ibope do que a
batalha inventada pelo Arthur Clarke.
Hoje
em dia, o negócio é no bruto mesmo.
Tenho
topado com gente do meu convívio, que tem gravado da internet, tem registrado
no celular, as mais bizarras cenas de violência. Chegam ao cúmulo de fazer
rodinha para exibir os últimos lances de barbárie.
A
certeza é que a insensatez, a brutalidade, a insanidade, a degenerescência da
natureza humana têm enorme repercussão no meio da nossa sociedade. Tratamos
golpes certeiros, potentes, mutiladores, poderosos, como se fossem um tapinha.
(um tapinha humilhante, que leva a morte). Um tapinha que, ah, não dói nadica
na nossa consciência.
Alguém
até puxou um assunto comigo, sobre a última. Uma que tá na internet. Uma em que
um cidadão esmigalha outro sem maiores culpas. Eu dei para trás rapidamente.
Deus me livre e guarde, cara! Me mostra aí, no teu celular, uma coisa qualquer
sobre futebol. Até mesmo sobre o sofrimento do meu bicola. Ou não, manda aí, um
vídeo saliente. Qualquer um...Aquele da Cicarelli (eu tô do lado é da
Cicciolina), aquele da Cicareeeelli, cara! Mostra uma praia linda e um
anoitecer estrelado. Mostra aí, no teu celular, cenas de amor. De diversão, de
resistência e de revolução. Mostra aí, reuniõezinhas de família e um barco
navegando ao longe pela baía do Guajará. Mostra daquele jeito que todo mundo
grava mesmo: uma imagem indefinível, turva, escura, mas inócua. Uma imagem que
não agride, que não maltrata senão pela falta de nitidez.
Mas
de gente sendo vilipendiada, não. De gente sendo submetida, Por favor, não!
Deixa pra lá, cara. Deixa que a arte previdente, reveladora, profética de
Arthur Clarke cuida disso. Cuida da rispidez e da irracionalidade. Cuida, com
tal zelo, como se fosse um aviso...Vindo do tempo dos macacos.
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