sábado, 23 de setembro de 2017

crônica da semana - brisa

Super da brisa
Ontem aconteceu o equinócio. E não tem nada de oculto ou misterioso nisso. É o marco de um período que o sol se posta exatamente sobre a linha do Equador, determina também a incidência direta dos raios solares nas superfícies tropicais. Corresponde ao momento em que a Terra está mais perto do sol. Todos estes eventos, somados às particularidades do planeta, interferem na posição da zona de convergência intertropical, aquecem as água do Atlântico Norte e provocam fenômenos naturais como tempestades e furacões. Fenômenos absolutamente naturais, resultantes da dinâmica prodigiosa do nosso planeta. Não tem nada de castigo de Deus nisso.
Mesmo porque Deus é super do bem, super da brisa.
Um ensinamento que mais pininica dentro de mim, e que resultou positivamente da minha passagem pelo oratório da Escola Salesiana do Trabalho, foi a certeza que o padre Lourenço nos dava de um Deus de amor. Comparava a bondade de Deus com a vida cotidiana de um pai de família ali das baixadas da Pedreira. Dizia que o pai não quer o mal para os filhos. Ele provê, cuida, dá carinho, e só deseja que os filhos sejam felizes.
Acredito até hoje na convicção do padre Lourenço. Diante dela me é muito claro que os filhos de Deus que habitam as terras do Haiti, de Cuba, das pequenas ilhas caribenhas, do delta do Mississipi, de jeito maneira, foram atormentados por forças divinas.
Relacionar as catástrofes naturais à ira de Deus, para mim, é pecado mortal. Leva, sem maiores discussões ao fogo eterno. É alta trairagem com o pai, além de uma robusta demonstração de ignorância. Mais fácil e mais possível é que as tragédias tenham razões nas insanidades humanas.
Uma passada de vista num bom atlas geográfico daqueles das antigas, faria um bem danado no entendimento dessas catástrofes. Deixaríamos de perseguir o bom pai, e nos daria vaga a perceber soluções e proteções.
A população dessas regiões tem o conhecimento desses riscos. A eles, falta a atenção de políticas preventivas. Engenharias aplicadas. Poder de mobilização. Condutas e infraestruturas eficientes de evacuações e socorro. O que a gente vê, pelas notícias que nos chegam, é que tecnologias que se antecipam aos fenômenos ajudam bastante. Salvam vidas.
Deus é do bem. Deus é da brisa. Do amor e da felicidade. Não tem nada a ver com dores, tormentas e furacões.
Quando não entendemos um evento na natureza como pertencente ao planeta, damos vez à tragédia. Quando nos comovemos com um vendaval no litoral da Flórida e desconhecemos o avanço das águas sobre Cuba, sobre o Haiti, como se só existissem seres humanos dignos de atenção na costa leste dos Estados Unidos, nós sim, é que somos um pouco culpados por dores, tormentas e furacões.
O equinócio é um fenômeno importantíssimo na história das civilizações. Estamos aqui, porque o homem tratou este evento com racionalidade e moldou-se a ele. Aquece as águas do Atlântico Norte, atiça a circulação dos ventos, cria redemunhos enormes. Não tem nada de castigo de Deus nisso.
Equinócio quer dizer “noite igual”. E não noite eterna. Não nos fechemos na escuridão.



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