Super
da brisa
Ontem aconteceu o equinócio. E não tem nada de
oculto ou misterioso nisso. É o marco de um período que o sol se posta
exatamente sobre a linha do Equador, determina também a incidência direta dos
raios solares nas superfícies tropicais. Corresponde ao momento em que a Terra
está mais perto do sol. Todos estes eventos, somados às particularidades do
planeta, interferem na posição da zona de convergência intertropical, aquecem
as água do Atlântico Norte e provocam fenômenos naturais como tempestades e
furacões. Fenômenos absolutamente naturais, resultantes da dinâmica prodigiosa
do nosso planeta. Não tem nada de castigo de Deus nisso.
Mesmo porque Deus é super do bem, super da
brisa.
Um ensinamento que mais pininica dentro de mim,
e que resultou positivamente da minha passagem pelo oratório da Escola
Salesiana do Trabalho, foi a certeza que o padre Lourenço nos dava de um Deus
de amor. Comparava a bondade de Deus com a vida cotidiana de um pai de família
ali das baixadas da Pedreira. Dizia que o pai não quer o mal para os filhos.
Ele provê, cuida, dá carinho, e só deseja que os filhos sejam felizes.
Acredito até hoje na convicção do padre
Lourenço. Diante dela me é muito claro que os filhos de Deus que habitam as
terras do Haiti, de Cuba, das pequenas ilhas caribenhas, do delta do
Mississipi, de jeito maneira, foram atormentados por forças divinas.
Relacionar as catástrofes naturais à ira de
Deus, para mim, é pecado mortal. Leva, sem maiores discussões ao fogo eterno. É
alta trairagem com o pai, além de uma robusta demonstração de ignorância. Mais
fácil e mais possível é que as tragédias tenham razões nas insanidades humanas.
Uma passada de vista num bom atlas geográfico
daqueles das antigas, faria um bem danado no entendimento dessas catástrofes.
Deixaríamos de perseguir o bom pai, e nos daria vaga a perceber soluções e
proteções.
A população dessas regiões tem o conhecimento
desses riscos. A eles, falta a atenção de políticas preventivas. Engenharias
aplicadas. Poder de mobilização. Condutas e infraestruturas eficientes de
evacuações e socorro. O que a gente vê, pelas notícias que nos chegam, é que tecnologias
que se antecipam aos fenômenos ajudam bastante. Salvam vidas.
Deus é do bem. Deus é da brisa. Do amor e da
felicidade. Não tem nada a ver com dores, tormentas e furacões.
Quando não entendemos um evento na natureza
como pertencente ao planeta, damos vez à tragédia. Quando nos comovemos com um
vendaval no litoral da Flórida e desconhecemos o avanço das águas sobre Cuba,
sobre o Haiti, como se só existissem seres humanos dignos de atenção na costa
leste dos Estados Unidos, nós sim, é que somos um pouco culpados por dores,
tormentas e furacões.
O equinócio é um fenômeno importantíssimo na
história das civilizações. Estamos aqui, porque o homem tratou este evento com
racionalidade e moldou-se a ele. Aquece as águas do Atlântico Norte, atiça a
circulação dos ventos, cria redemunhos enormes. Não tem nada de castigo de Deus
nisso.
Equinócio quer dizer “noite igual”. E não noite
eterna. Não nos fechemos na escuridão.
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