Hera da Terra (O Despertar de uma Lenda)
Era a final do festival de música
da Escola Salesiana do Trabalho. O teatro da Escola, lotado. A animada torcida,
distribuída pelos quatro cantos da platéia, anunciava em coro, uma certeza: “já
ganhou, já ganhou”. No palco, o Hera. O Hera da Terra.
Foi uma noite inesquecível. A bem
da verdade, aquele festival marcou. Muitas estrelas brilharam por lá naquele
setembro de 1982. Assim, de repente, lembro do Gil Guedes, do (saudoso) Rui
Guilherme, do Paulo Uchoa, daqueles fantásticos meninos de Queluz (que sumiram,
heim!). Lembro também, que a coordenação do festival estava pávula, pávula,
naquela noite, porque contava no júri, com o internacionalíssimo Sebastião
Tapajós.
Lembro de pérolas da poesia que
se instalaram para sempre no meu coração quando expressaram a indesejável
solidão “...No teu cais do porto/ Não atraca/ Nem um marinheiro torto/ Náufrago
de bar/Que fosse morto de paixão” ou a inevitável indignação“Olha o que brota
do chão/ Nada mais do que lágrimas/ Que o homem plantou/ Sob a mira de fartos
tropéis”.
Era a final do festival. O prêmio
era, num oferecimento dos sorvetes Gelar, um violão e um troféu (quem ainda guarda
este prêmio, heim?). Reações diversas na platéia. Óbvios descontroles em
alguns, inexplicável serenidade em uns poucos. Encanto nos olhos.
Indisfarçáveis emoções. No palco, o Hera da Terra.
Foi um arraso. A música
“Despertar das Lendas” conquistou o mundo de gente que estava ali. Naquela
final, a música já estava na boca do povo. Uma porque vinha das eliminatórias
com todas as honras e, outra, porque era um produto ali da moçada do bairro.
Nascera do solo gentil da Sacramenta.
No palco o Hera. Um grupo
artístico-social-musical-etílico (não necessariamente nesta ordem) que juntava
alguns dos maiores talentos de Belém (e vou aqui, citar só os capas, as
unanimidades: Antônio Francisco, o poeta-líder; Arlindo, dito à época,
Fernandinho, o mágico das harmonias e Ribba, aquele que coloria os poemas).
O Hera da Terra não ganhou aquele
festival. Como todo bom festival, aquele foi marcado pela injustiça. Ganhou o
samba trazido por um grupo do Curió.
Ganhou, porém, tantos
corações...Ganhou o meu coração.
Gostaria de, aqui, homenagear
todos os artistas que estiveram naquela final. Para mim, junto com aquela outra
final, a da FCAP (que nos trouxe a Flor do Grão Pará, do Chico Sena) foi um dos
momentos mais ricos da nossa música.
Neste sábado, à noite, a cantora Teresa
Cristina vai reviver os grandes sucessos do Hera da Terra no Teatro da estação Gasômetro. Que bom, poder assistir ao ‘despertar de uma
lenda’.
👏👏👏👏👏👏👏👏👏
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