terça-feira, 5 de setembro de 2017

crônica remix- Hera da terra

Hera da Terra (O Despertar de uma Lenda)

Era a final do festival de música da Escola Salesiana do Trabalho. O teatro da Escola, lotado. A animada torcida, distribuída pelos quatro cantos da platéia, anunciava em coro, uma certeza: “já ganhou, já ganhou”. No palco, o Hera. O Hera da Terra.
Foi uma noite inesquecível. A bem da verdade, aquele festival marcou. Muitas estrelas brilharam por lá naquele setembro de 1982. Assim, de repente, lembro do Gil Guedes, do (saudoso) Rui Guilherme, do Paulo Uchoa, daqueles fantásticos meninos de Queluz (que sumiram, heim!). Lembro também, que a coordenação do festival estava pávula, pávula, naquela noite, porque contava no júri, com o internacionalíssimo Sebastião Tapajós.
Lembro de pérolas da poesia que se instalaram para sempre no meu coração quando expressaram a indesejável solidão “...No teu cais do porto/ Não atraca/ Nem um marinheiro torto/ Náufrago de bar/Que fosse morto de paixão” ou a inevitável indignação“Olha o que brota do chão/ Nada mais do que lágrimas/ Que o homem plantou/ Sob a mira de fartos tropéis”.
Era a final do festival. O prêmio era, num oferecimento dos sorvetes Gelar, um violão e um troféu (quem ainda guarda este prêmio, heim?). Reações diversas na platéia. Óbvios descontroles em alguns, inexplicável serenidade em uns poucos. Encanto nos olhos. Indisfarçáveis emoções. No palco, o Hera da Terra.
Foi um arraso. A música “Despertar das Lendas” conquistou o mundo de gente que estava ali. Naquela final, a música já estava na boca do povo. Uma porque vinha das eliminatórias com todas as honras e, outra, porque era um produto ali da moçada do bairro. Nascera do solo gentil da Sacramenta.
No palco o Hera. Um grupo artístico-social-musical-etílico (não necessariamente nesta ordem) que juntava alguns dos maiores talentos de Belém (e vou aqui, citar só os capas, as unanimidades: Antônio Francisco, o poeta-líder; Arlindo, dito à época, Fernandinho, o mágico das harmonias e Ribba, aquele que coloria os poemas).
O Hera da Terra não ganhou aquele festival. Como todo bom festival, aquele foi marcado pela injustiça. Ganhou o samba trazido por um grupo do Curió.
Ganhou, porém, tantos corações...Ganhou o meu coração.
Gostaria de, aqui, homenagear todos os artistas que estiveram naquela final. Para mim, junto com aquela outra final, a da FCAP (que nos trouxe a Flor do Grão Pará, do Chico Sena) foi um dos momentos mais ricos da nossa música.
Neste sábado, à noite, a cantora Teresa Cristina vai reviver os grandes sucessos do Hera da Terra no Teatro da estação Gasômetro.  Que bom, poder assistir ao ‘despertar de uma lenda’.


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