Meu Reino por Uma Rudada no Carusser
Há um tempão venho garantindo uma agenda estável para a quadra Nazarena. Uma programação retilínea que começava na sexta-feira com o Auto do Círio (e que numa ocasião coincidiu com a apresentação emocionada do insuperável Milton Nascimento) e culminava com uma volta no largo, no domingo de tardezinha (e desta prenda, em particular, reflito aflito, não dá para desobrigar-se. Todo ano tenho porque tenho de tirar um tempo pra’gente apreciar a iluminação da Basílica, se lambuzar de algodão doce, morrer de medo com a fuga da Monga e sair zonzo de uma ‘rudada no carusser’).
Na pauta, também, a aquisição dos brinquedos da época e nem só dos brinquedos tradicionais, mas também dos circunstantes. O roque-roque (agora também chamado de corró-corró, lá no calor do Arrastão do Pavulagem), aquele pássaro de madeira que, tec-tec, bate as asas e o indefectível barco de miriti são sempre objetos dos meus desejos.
Na outra ponta, os de plástico: a bolona colorida, um carrinho que faz um ronc ronc nas rodas quando friccionado na calçada, um barquinho descolorido e de superfícies fechadas, querendo ser uma lancha, sem graça que só ele (e quanto mais sem graça, melhor!) e uma boneca com o plastiquinho dos olhos azuis descolando, estes têm lugar certo na minha bagagem, contanto que sejam adquiridos nas exposições espalhadas pelo chão do arraial (atualmente conhecidas como comércio informal, mas que existem sem apelido, desde muito, muito tempo).
Há um bom tempo venho mantendo esta programação. Emoções e prazeres atualizados em cada dia:
A estética ribeirinha no Auto do Círio, o encontro sazonal no bar do Gilson, na sexta; os sentimentos indecifráveis na chegada da procissão fluvial, a alegria em alta temperatura do Arrastão do Pavulagem; o peixe frito com açaí, no Ver-O-Peso...Os imprescindíveis valores profanos na Festa da Chiquita, tudo no sábado; e no domingo, a remissão, a fé, a Corda ( a inquietante dúvida do corta, não corta), o rio de gente, na grande procissão; o almoço na casa do poeta José Miguel Alves e a alegria desbragada das crianças por entre os ecos pregoeiros do arraial.
Há tempos cumpro esta agenda, mas este ano, necas! Nem pro Círio deu para eu ir. Fiquei pegado no trabalho durante o final de semana do Círio, depois veio a antipática combinação falta de numerário/falta de tempo, e olha lá, já estamos indo pro final da quadra e nada.
Mas vou me virar para, antes da última noite do arraial (porque na noite do ‘fogos’, não tem combate!) dar um jeito para uma voltinha, com a mulher e os meninos, no largo...uma rudada no carusser...um algodão doce...Tenho fé.
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