segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

crônica remix - cheia do amazonas

A cheia do Amazonas
Não sou um especialista em redes hidrográficas, em regimes de cheias, nem nada, mas vivendo assim cercado de água por todos os lados, penso ser de bom termo, prover-me de notas e definições sobre os sobressaltos circunstantes.
Diante, então, das notícias que nos chegam sobre as inundações na calha do grande rio. Ante a impressionantes cenários alagados em pleno centro de Manaus; a desmedidas dimensões não tão estreitas do Estreito de Óbidos; Frente às chocantes imagens de barracas submersas em Alter do Chão (expondo-se ao sol somente em cumeeiras), corri para o Google Earth e fui-me certificar de umas notas que venho fazendo desde a enchente do rio Acre, esse ano mesmo, lá por fevereiro.
Tá tudo anotadinho. Naquele período, o rio Acre, que é tributário do Solimões (não sei se vocês lembram... Tá, tá legal, poucas pessoas lembram de fatos que acontecem no Acre. Um número minguado de cidadãos, tirando os emigrados acreanos, sabe que existe uma terra prometida a oeste do Brasil conquistada pelos seringueiros. Não é culpa nossa, não. É o pensamento que é assim, neste país, meio penso, meio bambo), Pois é, o rio Acre tava têi têi. Por acolá. Água dando no telhado das casas. O Solimões, fiz o registro no meu mapinha em março, a mesma coisa. Saltando às margens. Por aqueles dias, não marquei nada no rio Negro (por desinformação minha ou porque o rio Negro não se asseverava no volume assim que demandasse cuidado das mídias).
Eis que agora em maio, o rio Negro entra em cena tomando as ruas de Manaus e atingindo a marca de trinta metros (não entendo, sinceramente esta medida. Aqui no estuário, estamos acostumados com a referência do nível do mar. “Tal coisa está tantos metros além do nível do mar”, aí a gente vai lá no Ver-o-Peso, na lançante, e entende o que quer dizer isso, mas lá em Manaus... O que quer dizer trinta metros na régua?). Tirando essa inquietação na escala, temos a nítida noção do aperreio dos irmãos manauaras.  Fui lá na imagem do Google e grafei: “cheia no Amazonas”.
É a partir do encontro das águas do rio Negro com o rio Solimões, que o grande rio ganha o nome de Amazonas. E é neste ponto, exatamente que minhas anotações (no meu mapinha) ganham algum sentido. Acompanhei o traçado dos dois rios. Demarquei com aquele alfinetinho amarelinho do Google Earth, as deflexões e o estirões de cada um deles. Ficou claro, no desenho, o apartamento entre os rios. Um nasce ao norte, e o outro, ao sul da bacia do Amazonas. E aí, o que tem a ver o azul das calças com a enchente que ora se vive?
Eu colei esta conclusão de algum texto que li sobre o tema, mas olhando a imagem que retrata as origens polarizadas dos rios, a gente pode até intuir que eles pertencem a ambientes distintos. Sofrem influências alternadas dos mesmos eventos astronômicos que impõem chuvas ou estiagem (como o solstício que ocorre agora em junho, por exemplo).
Lembram que falei do rio Acre? (façam um esforço. Eu sei, ninguém lembra do Acre, mas vamos lá...). Ele está no lado sul da bacia e anunciava que neste lado, as águas seriam grandes, este ano. Quando o rio Negro, que ocupa a parte norte começou a encher (ali, próximo do Equinócio de março), foi fatal uma somatória de águas (tanto é que de Manaus pra baixo, o leito do Amazonas não tá respeitando ribanceira que dê eira).
Não sei se esta minha reflexão ajuda a entender melhor o nosso mundo de água amazônico. Eu sei que esta é umas das maiores cheias já registradas na região (pode estar anunciando, ao mesmo tempo, uma grande seca?). E merece nota. Meio subjetiva, porém, preocupada, solidária.


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