Muita
onda
Certa
vez, quando eu fazia Geologia, rolou uma pendenga sobre a teoria da Evolução. Uma
colega era radical em negar a teoria de Darwin. Alertei para o fato de que
alguns estudos geológicos operavam como fundamentos das idéias Darwinistas e se
ela não acreditava na teoria, por tabela, desacreditava da Geologia. Ela
recorria a doutrinações religiosas para criticar a Evolução. Acho que não
prosseguiu no curso. Certamente seria difícil para ela, conciliar ciência, religião
e alcançar aquele errezinho salvador que lhe garantisse varar os semestres.
Boto
fé na ciência. Passei por crises, também, na época de igrejeiro. Na hora da
dúvida, na hora de tomar pé e dar sentido às coisas, reconheci a religião como
meio insuficiente de provas e constatações. A minha decisão em optar por outras
leituras da realidade, se não compõe um fim, na certa oferece caminhos mais
desafiadores. Permite atitudes ousadas, inquietações saudáveis. Insubordinações
produtivas. Foi assim, penso eu, que a humanidade caminhou. Deixou de andar de
quatro, de vagar de galho em galho, ergueu-se, construiu mundos e chegou aos
confns dos céus.
Não
descarto o Deus bom. Se alguém o busca para o bem, para exercitar o amor incondicional,
e para preservar valores que nos leguem o necessário à preservação da espécie,
pai d’égua. Tá valendo.
O
que me perturba é que, mais comumente do que a nossa lógica vã possa imaginar, Deus
é evocado para ocultar, para negar, para se contrapor à clareza das coisas.
Outro
dia, no trabalho, reclamando do alvoroço que está a baía do Guajará, ao
entardecer, com ondas fortíssimas obrigando os barqueiros a fazerem manobras
delicadas para atracar no porto, alguém se adiantou em afirmar que aquilo era
obra de Deus. E sem quê nem pra quê, pois sequer esbocei versão diferente àquela
defendida por ele, asseverou o discurso afirmando que o homem tenta dar conta
de tudo, quer alterar, mudar a natureza, mas Deus está no comando e com supremo
poder controla as ondas batendo no casco e dificultando a atracação das
embarcações, na beira da baía do Guajará. Credo! Este jeito de interpretar o
movimento das ondas, é o mesmo artifício usado pelos gregos, antes de Cristo,
quando todo movimento de mundo e de alma que não se conhecia, atribuía-se a
causa, a um Deus. Então, este pensamento de explicar o solavanco das ondas pelo
humor de Deus data de, no mínimo, três mil anos. Tá atrasado pacas. É uma
prática que, com a evolução do conhecimento, se diluiu em concentradas soluções
e deu lugar a entendimentos mediados pelo método científico.
Se
não nos arriscamos à explicação mundana, que a gente se permita ao menos, a
observação. Viajo de barco pela manhã, cedinho. Neste horário, a baía está
calma, O barco desliza que é uma maravilha, pelo tapete de água. Mas no final
da tarde, na volta, o banzeiro chega a assustar. Me parece conveniente atribuir
esta mudança no comportamento das águas, à alteração de temperatura no ambiente,
que de manhã é bem fria, e à tarde tá de derreter o cocuruto, e não ao humor do
Todo Poderoso. Creio que Deus não faz onda.
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