A
lua acima do cocuruto
Uma
belezura o espetáculo da lua de sangue no domingo próximo passado. Uma teba
d’uma lua grandona, o eclipse, a cor inusitada, a beleza e o silêncio da
penumbra por horas: um feixe de atrações pra lá de interessantes no céu acontecendo
num só tempo. Mas, em matéria de bonitezas e luaus, eu sou pretensioso. Queria
mais.
A
superlua, foi amplamente divulgado, é um momento em que a lua está mais perto
da Terra e por isso, exibe-se 14% maior e 30% mais brilhante que as, já belas, aparições
normais. Por realizar uma trajetória em forma de elipse (algo parecida com a
forma de um ovo), ao completar uma volta em torno da terra, em parte do caminho
ela alcançará a maior distância e já noutra, ficará bem pertinho. Este lá e cá
da lua acontece todo mês. Nem sempre, porém, a gente percebe a aproximação (e
muito menos o distanciamento). É que o mais frequente é a lua estar pertinho,
mas meio escondidinha numa fase que chama pouca atenção como a Crescente, a
Minguante, a Nova. Nesses casos, tá ali poderosa, mas a gente nem malda. Nas
raras vezes que coincide a vizinhança da lua com a fase Cheia, aí, sim, é bater
e ver. É um absurdo de linda. Um espetáculo grandioso, prazeroso em todos os
sentidos. Provoca sensações e arrepios nos poetas, curiosidade nos passantes,
inquietações nos céticos, convencimentos nos eruditos.
Mais
raro ainda é este esplendor todo ser ‘desconstruído’ por um eclipse. Aí é de
balangar o coração.
O
eclipse, sabemos pela definição, é a ocultação de um astro por outro. Ocorre
quando, em pleno fulgor da lua Cheia, a Terra atravessa o caminho e impede que
o satélite seja iluminado pelo sol. A sombra da Terra é projetada para a lua e ela
vai sumindo, desaparecendo. Até ficar só o uma impressão, uma lembrança. Um
efeito que impressiona nessa conjunção é a cor avermelhada que toma conta de
superfície da lua. Um caprichoso detalhe da natureza, que ficou conhecido como
lua de Sangue.
Tudo
isso a gente viu no domingo e foi uma maravilha. Arte do céu que fica na
memória, no coração da gente daquela forma mais aprazível, mais confortável,
bem quista, querida, por um longo tempo.
Mas,
em matéria de bonitezas e luaus, eu sou pretensioso. Queria mais.
O
eclipse iniciou quando a lua já estava quase no meio do céu. Na posição em que
estava, aquela sensação de gigantismo perde muito da intensidade. Quando
caminha acima do nosso cocuruto rumo ao meridiano seja a maior das luas ou a mais
gitita, ela se apequena, não tem jeito.
Todo
este pacote de talentos lunares, com suas sombras e cores, poderia acontecer
quando a lua estivesse nascendo no horizonte. Ali a escala e as ilusões da
ótica reafirmariam o supertamanho do nosso querido satélite e a sombra da terra,
imagino, seria algo entre o fascinante e o assustador.
Reconheço
que para um evento que ocorre a intervalos de tempo longuíssimos, aspirá-lo
assustador e fascinante, é querer demais. Mas seria uma experiência
inesquecível além do que, a gente não ficaria com o pescoço dolorido e durinho
da silva, de tanto se vergar para mirar acima do cocuruto.
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