Tigre na cabeça
Procurando
bem todo mundo tem, inclusive a bailarina, uma paranoiazinha doce, aquela
sensação de um desdobramento aquém do desejado, uma expectativa pessimista, um
medinho de que as coisas não vão terminar muito bem. Do nada, diga-se. Mamãe
era campeã. Não podia ouvir um barulho diferente na rua, que logo maldava o
pior. Estrondo, trovão eram sinais dos tempos de apreensão. Nesta época de São
João, então, cada foguetinho era um assombro. Agora avalie as bombas de 100.
Fatos
comuns, com levíssimas alterações de natureza ou cor, a gente taxa logo de
fenômeno carente de explicações. Eventos vulgares, sintomas corriqueiros,
movimentos vãos, é do calibre da gente tomar, sem critérios, como avisos e
premonições.
O
que procuramos no certo é uma aventura. Um sacolejo na rotina. Eu mesmo torço
para que me apareçam de palmo em cima o injustificável, o inexplicável.
Aconteceu
dia desses e ganhou as mídias, um risco doirado rasgando o horizonte vespertino
de Belém. Oba! Um exemplo bem vindo de um espetáculo fantástico registrado por
um punhado de fotografias e vídeos. Tive logo uma intuição (todo mundo tem, a
bailarina também) de ser um disco voador se despinguelando de lá do infinito
até cá embaixo em desastrado rasante. Acho que não era não. Não tenho bons
resultados nessas minhas intuições. Houve de uma época, eu trabalhar à noite.
Durante o turno, foi não foi, virava a atenção para o céu, procurando aparições
extraordinárias. Achei mina de pontinhos luminosos que logo se revelaram como
satélites geoestacionários ou apelidos outros que os valham. Deixa estar que
numa noite... pêi! Avistei. Um objeto grande, de brilho intenso. Não era uma
bola de fogo, era uma bola de luz. Subia, descia, diminuía o brilho e sumia.
Marquei o ponto. Outras noites, procurei. E achei. Com um tempo, desconfiei daquelas
aparições sempre no mesmo horário, na mesma rota e com a mesminha definição no
rumo e na perda do brilho. Contou para meu desencanto também, que tudo
acontecia exatamente ali pras bandas do aeroporto de Belém. Deduzi então, que...
Meu
compadre Edir Gaya, não. Ele não nega fogo. Afirma de pé junto que lá pelo fim
da década de 70, ficou a uma distanciazinha assim do Chupa-chupa. Foi bem em
frente à Escola Salesiana, que naquele tempo era um aningal só. Eu até que ia
pedir pra ele reforçar o relato aqui nesta crônica, mas hoje, hoje é um dia
especial para meu compadrezito. Tá num pé e noutro, transbordando de felicidade
com o lançamento, logo mais à noite, do disco “Liamba Jazz e Samba” que ele
produziu com muito carinho, muito zelo e arte.
Para
nosso descontentamento, o traço doirado que foi visto em Belém, nem rastro de
um foguete, como especulado, arrisca ser. Não há elementos da Geodésia que
alimente esta possibilidade. A curvatura da Terra não abona um avistamento que
se realize nesta distância que se estende entre Belém e a Guiana Francesa.
Mamãe
era impressionada. O custo era dar a deixa. Certa vez disse que lhe revelaria
algo fascinante, mas enrolei, fiquei o dia todo remancheando. E ela a toda
hora: o que foi, menino, me conta logo. Estiquei a cantilena. Tadinha, ficou
tinindo de curiosidade. Fui além da resistência dela. Até, enfim, confessar-lhe
que estava me engraçando por uma pequena que tinha o olho amarelo. Um espanto.
Essa bola do olho da gente que no geral é acastanhada, azul, verde, na pequena,
era amarela. Parecia uma peteca colombiana das difícil.
Nada
a temer. Aliviada da angústia, mamãe deu um desconto. Fez a fé no Corujão. Cravou
tigre na cabeça e quebrou a banca.
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