sexta-feira, 15 de julho de 2022

crônica da semana - férias na barra

 Férias na barra

Na hora de fechar a conta, o atendente, entendo eu, pilheriou. Fez uma caçoada da gente porque só consumimos da pousada, uma garrafa de água, das grandes. De prima, assim, penso que nem somos obrigados a usar de todos os serviços da pousada em que a gente se hospeda, daí, correu um melindre pelos vãos da minha alma. Logo diluído na razão. Era este o objetivo mesmo. Deixar um dinheirinho para a maior quantidade de pequenos comércios e estabelecimentos de Barcarena. A meta era injetar uma grana na maior rede de atendimentos que a gente pudesse abarcar. A hospedagem se deu em duas pousadas distintas, andamos de aplicativo local, de táxi, de ônibus, de van, de lancha (e logo eu, olha só, que estava de banda com transporte público desde o início da pandemia), compramos lanchinhos cocríssimos de ambulantes, uma lata de camarão bem medida do vendedor no Caripi, e fizemos refeições em pelo menos seis locais diferentes. Uma pá de gente pegou uma ponta nesta minha feriazinha doméstica. Espero ter contribuído para aquecer esta fatia da atividade econômica tão abalada pelo desastre que se instalou no Brasil com esta política econômica recessiva e de extermínio do pequeno e do pobre.

A classe trabalhadora, aliás, que um dia desejou o paraíso, hoje em dia sai daquele lusco fusco assalariado regular e verga junto com o país para o avançado escuro do poço. Tô nesse bolo. Até um dia desses, a venda da minha força de trabalho me garantia até umas extravagâncias. Já tirei férias até nas estranjas. Mas quando que ousei agora. Nem ali, no Tocantins, como era a minha vontade, me atrevi. Caldo de galinha, cautela e uma apreensão sobre o destino do Brasil, me levaram a acudir-me do ócio, por cá pelas beiradas. E tá sendo bom pacas! Ainda mais que calhou certinho com a reabertura do Museu Emílio Goeldi para a visitação pública.

Além de Barcarena e do museu, revisitei cantinhos e carinhos da minha Belém. No roteiro, a Pedreira do samba, do amor e de uma vastidão remanescente de testemunhos da arquitetura Raio que o Parta. Aquele arranjo geométrico construído com cacos de azulejo e que marcou prosaicamente a paisagem urbana dos arrabaldes em contraponto com a erudição da azulejaria colonial do centro da cidade. Além da arquitetura da barra, tô de olho na florada dos Ipês da Marquês, que devem colorir meu bairro ainda antes do final das férias.

O passeio no Combu ficou no débito. Muitos pontos fechados e uma infra de meio de semana sem caldeirada de Filhote no cardápio. A boa surpresa ficou na conta do Mangal das Garças. Me dei conta que não conhecia o local. Pelo menos na profundidade até o aningal que grassa por lá. Vale a interação com uma beira de rio raiz.

Houve de por agora, coincidir d’eu receber um casal de pessoas queridas e amigas, de Minas Gerais em férias e fazendo escala aqui, antes de chegar a Manaus.

Fernando e Mara que foram as simpáticas visitas que recebemos nessa semana de férias, vão ter histórias pra contar sobre a passagem aqui pela nossa barra. Uma pena que, por causa de questões alheias à nossa vontade, não experimentaram um bom prato de Filhote e o famoso Tacacá. Como vão a Manaus, amenizei dizendo que em terras amazonenses podem compensar com um petisco de Tambaqui adulto e o famoso Tacalá do Amazonas.

Eu por cá, dentro das limitações que me impõe o cenário de caos Brasil, vou ainda me aventurar até a bucólica, antes de retornar ao trampo e aproveitar ao máximo as férias na barra.

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