Férias na barra
Na
hora de fechar a conta, o atendente, entendo eu, pilheriou. Fez uma caçoada da
gente porque só consumimos da pousada, uma garrafa de água, das grandes. De
prima, assim, penso que nem somos obrigados a usar de todos os serviços da
pousada em que a gente se hospeda, daí, correu um melindre pelos vãos da minha
alma. Logo diluído na razão. Era este o objetivo mesmo. Deixar um dinheirinho
para a maior quantidade de pequenos comércios e estabelecimentos de Barcarena. A
meta era injetar uma grana na maior rede de atendimentos que a gente pudesse
abarcar. A hospedagem se deu em duas pousadas distintas, andamos de aplicativo
local, de táxi, de ônibus, de van, de lancha (e logo eu, olha só, que estava de
banda com transporte público desde o início da pandemia), compramos lanchinhos
cocríssimos de ambulantes, uma lata de camarão bem medida do vendedor no
Caripi, e fizemos refeições em pelo menos seis locais diferentes. Uma pá de
gente pegou uma ponta nesta minha feriazinha doméstica. Espero ter contribuído
para aquecer esta fatia da atividade econômica tão abalada pelo desastre que se
instalou no Brasil com esta política econômica recessiva e de extermínio do
pequeno e do pobre.
A
classe trabalhadora, aliás, que um dia desejou o paraíso, hoje em dia sai
daquele lusco fusco assalariado regular e verga junto com o país para o
avançado escuro do poço. Tô nesse bolo. Até um dia desses, a venda da minha
força de trabalho me garantia até umas extravagâncias. Já tirei férias até nas
estranjas. Mas quando que ousei agora. Nem ali, no Tocantins, como era a minha
vontade, me atrevi. Caldo de galinha, cautela e uma apreensão sobre o destino
do Brasil, me levaram a acudir-me do ócio, por cá pelas beiradas. E tá sendo
bom pacas! Ainda mais que calhou certinho com a reabertura do Museu Emílio
Goeldi para a visitação pública.
Além
de Barcarena e do museu, revisitei cantinhos e carinhos da minha Belém. No
roteiro, a Pedreira do samba, do amor e de uma vastidão remanescente de
testemunhos da arquitetura Raio que o Parta. Aquele arranjo geométrico
construído com cacos de azulejo e que marcou prosaicamente a paisagem urbana
dos arrabaldes em contraponto com a erudição da azulejaria colonial do centro
da cidade. Além da arquitetura da barra, tô de olho na florada dos Ipês da
Marquês, que devem colorir meu bairro ainda antes do final das férias.
O
passeio no Combu ficou no débito. Muitos pontos fechados e uma infra de meio de
semana sem caldeirada de Filhote no cardápio. A boa surpresa ficou na conta do
Mangal das Garças. Me dei conta que não conhecia o local. Pelo menos na
profundidade até o aningal que grassa por lá. Vale a interação com uma beira de
rio raiz.
Houve
de por agora, coincidir d’eu receber um casal de pessoas queridas e amigas, de
Minas Gerais em férias e fazendo escala aqui, antes de chegar a Manaus.
Fernando
e Mara que foram as simpáticas visitas que recebemos nessa semana de férias, vão
ter histórias pra contar sobre a passagem aqui pela nossa barra. Uma pena que,
por causa de questões alheias à nossa vontade, não experimentaram um bom prato
de Filhote e o famoso Tacacá. Como vão a Manaus, amenizei dizendo que em terras
amazonenses podem compensar com um petisco de Tambaqui adulto e o famoso Tacalá
do Amazonas.
Eu
por cá, dentro das limitações que me impõe o cenário de caos Brasil, vou ainda
me aventurar até a bucólica, antes de retornar ao trampo e aproveitar ao máximo
as férias na barra.
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