Por onde se enxerga
Nem
bem o dia amanhecia e eu já tirava no rumo do hospital. A missão era chegar bem
cedinho para evitar contatos e desocupar logo para o caso de ter outras
precisões, outros exames ou comprar medicamentos extras. Já tinha o resultado do
teste rápido, estava há pelo menos quatro dias com Covid. Isso foi logo no
início do mês de junho. Havia uma procura considerável de atendimento e houve
de eu esperar um bom tempo. No corredor, umas quantas pessoas com as mesmas
reclamações. Tosse, garganta doendo, febrinhas e constipações (que é como
conhecemos aqui o desconforto do nariz entupido). Todas do meu top, nas
beiradas da minha idade. Bati uma chapa, fiz outro exame e na consulta, recebi,
não sem surpresa, mas com algum alívio, a notícia do médico de que eu iria
reagir bem à doença. Estava resistindo ao vírus na força das quatro doses de
vacina que eu havia tomado. Superei serenamente as febres ‘loucas e breves’ que
se enxeriram a me baquear por causa da contaminação com o maldito vírus.
Não
havia, nos meios que freqüento, um único ser pagão ou crente que maldasse um
dia, eu cair para a Covid, afinal, se juntássemos os parâmetros e recomendações
de proteção em uma única pessoa, o dado cairia exato na minha casinha. Olha que
driblei este vírus e não foi do trisca não. Até o junho próximo passado, quando
ele me deu uma entrada por trás e me derrubou na pequena área.
Algumas
conclusões ratifiquei com a penalidade máxima: O contágio se dá daqui pra’li, num
vacilo; as aglomerações são conta certa e batida para a transmissão (e eu,
munido de álcool e máscara freqüentei uns bolinhos de gente, na época, que não
eram adeptos dos mesmos cuidados); a faixa etária das pessoas que encontrei no
hospital dizia que nós, velhinhos antes isolados, que havíamos varado mais de
dois anos sem pegar a bicha, por agora, estamos saindo mais, colocando a cara
na rua, nos assanhando a ir as partes e aos eventos.
Nossa
valência e a minha, em especial, que se realizou numa composição físico-psicológica
que se bate com medos, traumas, hipertensão e umas quantas coronárias
obstruídas, foi a aplicação e a aceitação da Ciência como agente fundamental, e
sem mediação, para que minha resposta a esta contaminação não passasse de uma
ardência na garganta e tosses fracas e episódicas.
Nem
contei nada pra ninguém aqui ou nas mídias que freqüento, para não causar
preocupação. Em junho já havia sinais de uma nova onda (ponto novamente para a
Ciência. As elaborações estatísticas estão fazendo previsões rigorosas, com
alto grau de aproximação, e portanto, necessárias). Agora em julho, esta nova
fase se confirmou, com a evidência de centros de saúde recebendo alta procura
por tratamento e testes.
Na
hora de tirar a cisma, tirei. A minha grande apreensão era, como portador de
comorbidades, ter complicações que me levassem a riscos, internação ou
procedimentos dolorosos e caros. Contra minha vontade, tirei a cisma. Não
gostei nada nada de me submeter a esta prova. Preferiria me contar zerado da
contaminação. Reitero aqui, que não é bom se dispor à loteria da doença. Os
números mostram que muitos casos são fatais.
Eu
por mim, vou redobrar os cuidados. Vou tomar quantas doses forem ofertadas de
vacina e ainda devo insistir com os descrentes para que valorizem e usem, à
vontade, do bem que o conhecimento científico nos faz. O zap, inclusive é um
produto da Ciência. É resultado de mentes humanas iluminadas. É então, cria da
racionalidade e vetor de saúde e não de notícias falsas, crendices ou
alucinações.
Por
onde se enxerga, estou bem.
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