Tá rolando nas plataformas de música
Há
um tempo, tenho um blog que abriga meus escritinhos. Antigamente tinha meu nome,
mas depois que percebi um monte de acessos suspeitos, mudei o nome para
Pedreira Jazz Pedra Noventa que tem o igarapé do Zé dentro dele e se explica
assim:
No início dos
anos setenta, o bar Pedra Noventa (que tinha esse nome por causa da última
pedra do bingo, a maior) era ponto de encontro de várias tribos. Era um bar
deslocado do eixo movimentado da Pedro Miranda, mas tinha seu charme, sua
clientela cativa. Era também, um dos poucos lugares na Pedreira que tinha um
telefone público. No meu imaginário, o bar era vanguardista, moderno. As coisas
aconteciam por lá. Não sei bem por que penso assim, mas tenho pistas. Meu tio
fazia parte de umas das tribos do bar. Morávamos na Marquês, e parte dos jovens
da rua se reunia pr’aqueles lados. Depois dos encontros, ouvia meu tio falar de
músicas diferentes daquelas que a gente ouvia nas tardes favoritas no programa
do Almir Silva. Comentava a guitarra de um tal Santana, elogiava grupos de fora
como Creedence, o romantismo neolatino de Christophe e aqui no Brasil, o teclado versátil
de Lafayette e Seu conjunto... Essa era a conversa que eu ouvia. Então para
mim, no Pedra Noventa, ouviam-se sons diferentes. Daí, desses sons distintos,
para o Jazz, foi um pulo. Entendia que o Pedra Noventa canalizava os
improvisos, a alegria e a sofisticação do Jazz retratado em cada ritmo novo,
ousado que tocava ali.
O igarapé do
Zé
O vento que
traz o Jazz já é uma inclinação minha para o bucolismo que naquela época ainda
vingava por aquela esquina. Até hoje, este ventinho de fim de tarde ainda é
sentido em toda essa região da baixa da Pedreira. Na falta de uma explicação
lógica, atribuí a formação deste arzinho da tarde, à densidade das matas da
aeronáutica, que margeiam a Dr. Freitas e delimitam a cidade na primeira légua.
Ali nasce o igarapé do Zé.
O igarapé do
Zé é uma licença poética. Um devaneio, um desejo contido. Mamãe jamais deixou
que eu fosse pra lá. Mas a molecada ia. Às vezes chegava bem perto, sentia a
mudança de temperatura ali à margem da Dr. Freitas. Mas não entrava na mata
não. Era menino obediente. Sabia que pra’li, havia um mundo encantado donde a
Matinta reinava. E que lá coisas maravilhosas se realizavam. Mas não podia ir
lá. Mamãe ralhava. O igarapé do Zé é uma vontade minha não concretizada. Uma
aventura que vive só no meu cocuruto. E a maravilha que se impõe de lá aos
quatro cantos, reinterpreto hoje como sendo este vento gracioso que nos afaga
todas as tardes.
Ah, e tem a
música de meu compadre (Edir Gaya é meu compadre. Sou padrinho do filho dele,
Gabriel. Fiz curso e tudo, com a pastora Marga Rothe; e ele é padrinho de minha
filha Amaranta, ou seja, estamos emaranhados nas teias do compadrio). A música
é deslumbrante. Certa vez, estava ouvindo a música, fiquei tão encucado com
aqueles andamentos pra lá de assimétricos que enviei para um amigo meu
entendido de tudo, para que me explicasse aquela singularidade, aquela estilística
melódica. Né querer falar. É uma melodia jazzística da gema, coisa do
Mississipi.
Tá rolando nas
plataformas de música. Compõe o disco que meu compadre lançou sábado passado. E
que vai trilhando caminhos para o Grammy. Tem um quê que atrai a gente. Não sei
definir o que ela é. Para mim é um Jazz, mas tenho uma amiga que bate um
pandeiro bem que só, ouviu e definiu da forma que mais aprecio. Diz que é uma
letra de carimbó encaixada numa mini-sinfonia. Concordo.
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