Crônicas para Belém
Tenho
ouvido coisas...
Tinha o
Cláudio Cardoso como romancista e poeta dos bons. Com um quê a mais: não é só
do riscado, não. Tem uma pegada para a poesia falada. Um pendor ímpar para
declamar poemas. Fico impressionado com a memória e o discernimento ao declamar
poemas longos, principalmente aqueles pautados em cordéis ou rimas
encarreiradas. Quando vem aqui no Sarau do Quintal, dá um show. Diga-se até,
que Cláudio é sócio-fundador do Sarau que fazemos em casa há quase dois anos.
Empresta seu talento, notabiliza-se pelo suprimento de vinho, e arrisca
machucar o couro do tambor, nas nossas rodadas mensais de samba e poesia.
Desde
2013, estamos ombreados na produção literária, também. Meus dois últimos
lançamentos, fiz com a editora do Cláudio. Para mim, foi um salto e tanto. A
parceria me rendeu bons resultados. Saí
de umas tentativas amadoras, um tanto românticas, de produção, para um patamar
mais aquele de elaborado. Montei times de responsa, busquei patrocínio; fiz
divulgação, cacarejei sobre minhas obras, bati perna na imprensa, cisquei pacas
nas mídias sociais. Sob a batuta do Cláudio, migrei de 10, 20 livros vendidos, para parentes e amigos,
nos lançamentos que fazia antes, na Feira do Livro; para mais de 200, nas duas recentes
edições. Alcancei um número bem maior de leitores, neste novo jeito de publicar.
Não sou mais um traço na estatística literária, me acheguei aos bambambans,
fiquei ali, bafejando o cangote dos mais lidos, dos mais queridos, graças aos
talentos empreendedores de Cláudio Cardoso. E confesso sem nenhum remorso, que
para este retirante do condado do Xapuri, ser mais conhecido, é muito bom. Ah, como
é.
Tenho
ouvido coisas que me deixam pávulo, pávulo...
Nas
prosas que entabulamos pelos saraus da vida, descobri o Cláudio Cardoso, também
como moleque pedreirense. Nos reencontramos explorando os corredores do Mercado
Municipal e fazendo carretos de entregas pelas baixadas da Pedro Miranda.
Reconhecemos nossas pegadas, nos caminhos sedutores que levavam às águas
friinhas do igarapé do Zé, do Três Tubos. Nos descobrimos simpáticos às mesmas
desobediências juvenis, como as sessões proibidas do Paraíso, ou uma errada
noturna pelas esquinas boêmias da Angustura, da Lomas. Tudo escondido da mãe.
Mas nossa conjugação, o nosso acerto de memória mais aprazível é aquele que nos
coloca frequentando a piscina do Satélite, nas tardes distantes de uma Belém,
ainda apegada à primeira légua. Cláudio é o testemunho fiel e inquestionável de
que aquele ambiente molhado sacudido pelo Carimbó não é uma criação do meu
cocuruto. A piscina do Satélite existiu mesmo.
Cláudio
está totalmente empenhado agora, no lançamento de um livro em homenagem ao
quarto centenário de Belém. A “I Antologia de Crônicas – Belém 400 anos” está no
jeito. Conta com uma plêiade de escritores talentosos e que traduzem o amor
pela cidade em textos encantadores e verdadeiros.
Tenho
ouvido coisas que me deixam pávulo mesmo. No sarau que a gente fez no início de
dezembro, Cláudio tomou a palavra, apresentou o projeto da antologia, e
discorreu sobre os motivos que o levaram a pensar a crônica como forma
literária de homenagear Belém. Quando acabou de falar, meus olhos estavam
marejados. Muita emoção.
A crônica
de final de ano é uma homenagem a este cara batalhador, competente, poeta
refinado. Que me deu a honra de participar de um livro que homenageia Belém, a
cidade que amo. Ao Cláudio Cardoso, desejo que o ano novo traga muita luz para
a “I Antologia de Crônicas – Belém 400 anos”. Para todos nós, toda arte, saúde
e paz.
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