Hoje
o dia tá neblinado, menino
Lá
no início de junho, houve d’eu fazer um trabalho extra no sábado. Cedo peguei a
alça viária no rumo de Barcarena. O cenário, na estrada, nas primeiras horas da
manhã era de filme europeu. Uma neblina compacta tomava conta da paisagem e de
tal forma, que por vezes a gente percebia a estrada, as árvores da beira, as
casas, as pequenas vendas da margem, tudo desaparecer na densa fumacinha
branca.
Aquela
viagem me ajudou a tomar decisões. Para algumas atividades que desenvolvo,
preciso de dias enxutos, sem chuva. E ao contrário do que possa parecer,
neblina é sinal de que o sol farto vem vindo por dias e dias.
Mas
foi bater e ver. Daquele dia em diante as chuvas rarearam e pegamos dias encarreirados
de muito sol. As manhãs se iluminaram mais cedo, a roupa no varal secou só do
trisca, a rotina se alterou para aproveitarmos melhor o tempo, e no trabalho a
coisa rendeu que foi uma maravilha. Ponto pra mim.
Nada
porém de pensar que eu sou o metidão, o sabichão que até do tempo dá vencimento.
O José do Egito do quarador. Não se trata. Digo que faz parte do aprendizado da
vida. Esta leitura diferenciada da neblina vem de longe. Vem de Rondônia e o
grande professor foi um Técnico de Mineração do Rio Grande do Norte por nome
Mário Rocha.
Foi
meu companheiro, naquela fase primeira de adaptação na mineração. Morávamos na
mesma casa e todos os dias saíamos juntos para o trabalho. Antes de chegar na
mina, a gente inspecionava algumas barragens que supriam o sistema com água de
processo. Mário tinha grande preocupação com o nível da barragem. Manter aquela
água era fundamental para a operação.
Era
um técnico de primeira linha. Comandava uma planta flutuante, equipamentos
complexos, equipe refinada. Além de tudo tinha percepção. Como se diz hoje,
tinha feeling. Durante o período chuvoso que, em Rondônia, corresponde ao mesmo
nosso aqui, tudo tranquilo. Água à beça. Mas quando chegava nesta época, final
de maio, uma nevinha branca aparecia sobre a lâmina d’agua. Mário acendia a
luzinha. Os dias amanheciam opacos, a mais pura neblina. Era o aviso. Quando a
gente dava fé, o sol estava de rachar e o nível da água nas barragens começava
a baixar. Era hora da ação.
Durante
anos usei a técnica da neblina para pautar as minhas ações profissionais. Mesmo
fora da mineração, como agora, ela me vale, ora se não.
Deste
aprendizado, também lanço mão para programar a vida. A neblina traz o sol mais
presente e com ele, o calor de correr doido. Aqui em Belém a gente sentiu logo.
Só vejo é a geral reclamando. Já lançaram até na internet a imagem de um ovo
fritando em pleno asfalto da antiga Tito Franco.
O
que se dá é que sendo fake o ovo estalado ou sendo crença mundana e informal as
minhas convicções sobre a neblina, acredito no feeling, no faro e no meu jeito.
O entrelaçamento desses eventos (neve branca na estrada, ovo estalado, calor de
correr doido) pode não ser o algoritmo determinante para a vida de muitas
pessoas. Para mim, vale. Boto fé, arrumo as malas e parto de férias.
Vou
dar um tempo dessa sauna de Belém. Nos vemos mais logo.
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