A raiz do problema
Ano passado comecei a fazer um curso de Física on line ofertado pela USP. De grátis. Obviamente, um devaneio. Um homem já de barba branca, pai velhinho de família, ocupado com os colírios e com a lida diária, se metendo com esses estudos apavorantes.
Pior. Eu acho que isso é uma doideira mesmo.
É muito querer arrumar sarna pra se coçar. Mas tem o lado bom da força. Vai que o vento bate, eu me ache um cientista dos mais aquilatados e descubra o áureo cintilar das moléculas da felicidade. Seria um marco. Uma realização. Uma esperança Física para os encalacres da humanidade.
Enquanto não alcanço a excelência acadêmica, e nem a fórmula do bem viver quântico, vou fazendo os módulos e respondendo pendências antigas. Ainda tenho na memória o mico que paguei no primário, na Escola da igreja Aparecida. Fosse hoje, diria que a prova era sobre os conceitos iniciais de função. Mas foi há uma pá de tempo e as questões eram sobre conjuntos. Uma questão complicada pedia que ligássemos as figuras de um conjunto A, com outras do conjunto B. Não sei o que me ocorreu, que liguei tudo errado. Minha média foi lá pra baixo. Naquele ano, passei me esfregando mesmo no chão, por causa dessas patetices e pela confusão que fazia diante das perguntas de contém ou está contido; pertence ou não pertence. União ou interseção. Foi uma luta varar a teoria dos balõezinhos com figuras dentro.
Mais tarde, já além dos quarenta anos, me deparei de novo com um retumbante fracasso. Novamente as funções, ilustradas agora com as derivadas e o teorema fundamental do Cálculo. No frigir dos ovos, tinha que relacionar novamente e, dessa vez, apelando para as ferramentas abstratas, um elemento de um conjunto fulano à imagem dele, no dito conjunto sicrano (as tais éfe de xis). Dessa feita, aconteceu d’eu experimentar a nota mais baixa da minha vida de estudante. Mais baixa até que a outra da Aparecida. Na linguagem matemática foi um número n < 1. Bem menor. No limite do zero. Passei um tempo escondendo esta prova dos meus filhos, revelo. Não queria ser um mau exemplo.
Eis que depois de outro tanto de tempo, neste curso da USP, diante de explicações fáceis de entender, e exemplos simplesinhos, me dei conta que aprendi alguma coisa. Vibrei por sacar na vera o que significa aquele ‘dx’ que aparece sempre na notação de Integral. E fiquei mais alegre do que pinto no lixo quando, com o meu próprio charme, deduzi a equação de Torricelli integrando uma constante (e lixo é o que não falta na cidade).
Grandes mistérios sobre os conjuntos eu aprendi neste curso da USP, ele me ajudou a exorcizar uns diabinhos que me acompanhavam desde a Aparecida.
Entusiasmado, acessei alguns vídeos para agregar. Encontrei um de uma portuguesa de 18 anos que, ora, ora, depois de uma vida toda, me apresentou um jeito fácil de achar a raiz quadrada de qualquer número. Além do sotaque pra lá de engraçado, a garota me apareceu como umas das poucas pessoas que conheci, que sabe fazer esta conta. Sabe achar a raiz do problema. Só falta agora eu descobrir os áureos cintilares da felicidade.
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