Hera
de felicidade
O
Hera da Terra foi um grupo musical formado na Sacramenta por uma moçada que, ou
estudava, ou orbitava a Escola Salesiana do Trabalho. O núcleo, que conheci, do
grupo, era formado por Antônio Francisco e Ribamar Araújo que se dedicavam à
criação das letras e por Arlindo Cruz, músico inspirado e encarregado de pôr
melodia nos versos dos poetas.
Conheci
a moçada meio que pela dor. Estudava na Escola Técnica.Tinha lá meu melhor
amigo. Fazíamos uma reuniãozinha debaixo dos estirados buritizeiros que
reinavam lá pras bandas do pavilhão de Edificações, e por ali rolava de tudo.
Discussão política, recitais de poesia, partilhas estéticas e muita música. Deu
então, que, o agora jornalista Edir Gaya, meu chameguinho até hoje, começou a
trazer um som diferente para nossa confraria. A fonte que ele bebia ficava lá
na rua Primeiro de Setembro, na Sacramenta. Acabava a aula e ele se mandava pra
lá. E eu, me conformava em estar perdendo (a dita dor) meu amigo para outros e
maravilhosos estilos. Até que um belo dia, nos cruzamos, eu e o Hera. Foi num
festival de música na Escola Salesiana. O Hera iria para a final com a bela
‘Despertar das Lendas’. Edir já tocava
no grupo e eu coordenava aquela edição do festival. No último dia, me aproximei
do Arlindo, que àquela altura estava recebendo elogios encarreirados pela
maravilhosa canção da final, e entreguei-lhe um papelzinho com um poema que
havia feito. Não pedi que musicasse. Fiquei com vergonha, mas, oh, oh! Era
óbvia a minha intenção. Foi desse jeitinho que passei a fazer parte daquela era
de felicidade.
Alguns
dias passados daquele encontro com Arlindo, o grupo me convidou para participar
da reunião deles. Fomos eu e Edir Gaya. Vivi uma noite inesquecível. Ali
estavam todos eles, os artistas da Sacramenta. No centro de uma grande mesa, um
garrafão daqueles de 5 litros, cheinho da mais aprumada e concentrada batida de
limão da paróquia. Ouvi as mais lindas canções, histórias de vida (era como uma
apresentação). Soube dos meninos que viajaram com o Johnny Alf e por aqueles dias, faziam sucesso nos Estados Unidos,
reconheci sonhos e propósitos, no grupo. A casa era quase um centro de
peregrinação, quando o Hera reunia. Todo mundo pintava por lá. Do meio pro fim,
com as ‘emoções tomando conta do lugar’, o Arlindo pediu pra mostrar uma música
nova. Era o meu poema. A minha era começando no Hera. Arlindo cantou uma ou
duas vezes, a moçada aprendeu, depois todo mundo cantou, quem tocava, pegou o
instrumento e tocou junto, e eu só chorava (éraste, chega me dá um arrepio,
neste instante mesmo, quando recordo essa passagem que se vai além dos trinta
anos na história).
Ainda daquele festival, o Hera herdou jovens talentos como Carlinhos,
Déia Palheta, Gil Galiza, Augusto Hijo, Cristina Matos, Dimmi, e euzinho que me
emboletei com os bons. Um grupo mais robusto e criativo que enriqueceu pacas a
cultura da periferia.
No dia 14 próximo passado, voltamos a nos reunir em grande folguedo,
depois destes bons trinta anos. E foi uma maravilha este reencontro. Desconfio
que reiniciamos uma nova era.
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