Na Matinha tem um portal do tempo
Nossa
aula na Escola Técnica começava uma da tarde, mas meu compadre saía de casa,
uma e dez, uma e quinze, atravessava o portal, que fica em algum ponto
misterioso da Matinha, voltava para o passado e quando chegava à Escola, nem
tinha batido a campa da primeira aula.
A gente
pensa que não, mas existe sim, um portal do tempo. Um lugar onde o passado
encontra com o futuro e o presente é a experiência, a sensação, a vivência e o
conceito...
Se a
gente for caminhando pra’li, pro lado da baía do Guajará, estamos indo no rumo
Oeste. Pra dizer, que a gente passa da ilha das Onças e chega no Acre.
Combinado que aqui em Belém são 11 horas da manhã de sábado, 13 de junho, aquela
hora que a gente senta pra dar uma olhadinha no jornal.
No Acre
são 9 horas. Se a gente for mais adiante, saltar a cordilheira dos Andes e
descer no oceano Pacífico, em Lima, a cidade que não chove, vamos nos achar às
6 horas da manhã deste dito dia 13. Deu pra perceber que a gente, nessa viagem
imaginária, indo pro lado que o sol se põe, está indo para o passado. Agora,
vamos pensar...Vai ter um lugar xis no meio do oceano Pacífico que o tempo vai
voltar tanto pra trás que se a gente viajar mais um estirãozinho, vai dar no
dia 12, ontem, sexta-feira (Eba! Mad Friday outra vez).
Pro
outro lado, ocorre o inverso. Fazendo de conta que a gente vai para a ilha de
Fernando de Noronha, ali na costa brasileira, estas mesmas 11 horinhas daqui,
já contam lá, as 12 badaladas do meio-dia. Mais ainda, se a gente navegar o
caminho do Colombo e chegar às praias da Espanha, vai ver que por aquelas
plagas já é quase de tardezinha, 16h. Notamos, então, que na nossa viagem para
Leste, vamos, resolutos, ao encontro do futuro. Se nos embrenharmos pela
Europa, Ásia e despencarmos lá do outro lado do Japão, naquele mesmo ponto xis,
no meio do Pacífico, as horas vão subir tanto que vai ter um momento que quando
a gente der fé, vai ser o dia 14, domingo (Eba! Ócio, pés pra cima e uma gelada
pra relaxar).
Aí, pra
gente que está de boa neste sábado, lendo a coluna de crônicas no jornal, o
portal do tempo se apresenta assim: Se correr prum lado, é passado, se pro
outro se aventurar, é futuro. E o presente é este dia que a gente toma para ser
feliz.
Ter um
portal do tempo na Matinha, o bairro que ama e zela indica o domínio que meu
compare tem sobre as eras. E ele que fez aniversário no presente mês; ele que
sempre andou atrasado e por não dar trela para as convenções e pontos no
Pacífico, contradiz o senso e sempre se adiantou em carisma, em gentileza, em
poesia, em sonoridade, em generosidade, em fidelidade, em respeitar e amar a
mãe, em ser amigo, meu melhor amigo; ele que sempre se adiantou em subverter as
regras deterministas e escravizantes, ele que sempre se adiantou nos saberes do
mundo e das artes... Ele é meu presente. Pra ele, o tempo se dobra (e permite que
ele saia de casa para a Escola Técnica 15 minutos depois da campa ter batido e,
trinta e seis anos depois a gente ainda se encontre para as nossas, eternas, primeiras
aulas de vida).
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