sábado, 16 de agosto de 2025

crônica da semana - ser normal e tal - conexão

 Ser normal e coisa e tal

Da vez que vim de Lima, no Peru, para o Brasil, aconteceu igual. Estava com um parceiro meio desligadão, nem seu Souza para as urgências e contingências. Fui na dele, patetei no horário de pico da cidade, e no trajeto para o aeroporto demos de encontra com um trânsito daqueles, lento, travado. O que se deu é que chegamos ofegantes e na batida da campa para o embarque. Por aqueles dias ainda se marcava lugar no balcão, na ocasião do ‘chequim’. Pedi janela. A atendente me respondeu dizendo que só havia sobrado uma janela, na última fileira, aquela aonde a poltrona não reclina e que fica de palmo em cima com os banheiros. Me dei foi por satisfeito. Estava na conta do nosso atraso essa prenda. Peguei a vaga. Íamos atravessar a cordilheira dos Andes e por causa de uns dramas pequeninos de últimas poltronas eu é que não ia perder o espetáculo grandioso das montanhas. De jeito e maneira.

De modos que já estou passado na casca do alho de viajar me batendo com os desconfortos da última fileira do avião. Por isso não queimei as piriricas quando no aleatório para a viagem mais recente que fiz, fui lançado para a mesma colocação. É certo que reinei numa insatisfação por jogarem os avós e a netinha no fundão, mas um outro e dramático fato daquela viagem de regresso do Peru,  me requereu mais atenção. O curto tempo de conexão.

Agora desta vez o cuidado era com a troca de avião em Brasília quando tínhamos minguados 50 minutos para sair de um e entrar noutro. Com criança, bagagem de mão, um estirão a vencer às carreiras e o demorado desembarque de mais de 200 passageiros.

Sou desses. Espírito cartesiano. Dou maior valor no xis aventureiro lançado ao encontro com um ipsilone, de espera atenta, num cantinho certeiro do espaço. Acredito, em qualquer combinação, na geração de um inequívoco ponto P, objetivo, absoluto e dotado de algum sentimento. Daí que, dias antes da viagem, as noites se tornaram mais curtas, o sono dava lugar a simulações de situações limites, continhas, avaliação de imprevistos, julgamento antecipado de eficiência da infra-estrutura do aeroporto e da companhia aérea. Preocupação latente e insistente com os detalhes da viagem. Agendei documentar, filmar tudo, cada etapa do vôo. Caso perdesse a conexão teria provas suficientes para demandar os operadores do sistema.

Do meio por fim, encaminhei um plano de ação. Mapeei o aeroporto de Brasília, localizei os píeres, possibilidade de desembarque em cada um deles, estratégia de deslocamento. Fez parte do plano de ação também, uma pesquisa sobre o tempo de deslocamento entre os píeres. O destaque é que a quase totalidade dos vídeos que achei na internet é desprovida de funcionalidade. A maioria retrata o lado recreativo das conexões, exibem vulgaridades, registros vazios de finalidade. Nada sobre os aspectos práticos de uma conexão, como a distância dos portões e tempo de caminhada entre eles. Até que achei um perfeito. Um único vídeo útil indicando a duração da caminhada de um píer a outro. Captei a mensagem, 11 minutos. Agreguei a informação às minhas continhas.

Já na hora do embarque aqui em Belém, a dica. Enquanto esperava a chamada, medi o tempo de desembarque de dois aviões que chegaram. No máximo, 15 minutos. Mais uma parcela para calibrar minha soma de tempos.

Meus aperreios, minhas ações, noites de sono perdidas e as continhas, sem hesitar, são tidas aqui na família como sinais de ansiedade, apreensão e preocupações nada normais. Aqui ali, ouvi orientações para eu me aquietar, deixar tudo pela providência divina e levar a vida na boa.

Não desapeguei das minhas manias. Afinal, admito que ser cartesiano. Um articulador cronometrado, para mim é natural. Combinar xises aleatórios e ipsilones comprometidos, entendo que sempre gera um ponto certeiro no espaço, dotado de personalidade. Sou normal eu. E, então, deu tudo pelo certo na conexão. 

 

 

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