Ser normal e coisa e tal
Da
vez que vim de Lima, no Peru, para o Brasil, aconteceu igual. Estava com um
parceiro meio desligadão, nem seu Souza para as urgências e contingências. Fui
na dele, patetei no horário de pico da cidade, e no trajeto para o aeroporto
demos de encontra com um trânsito daqueles, lento, travado. O que se deu é que
chegamos ofegantes e na batida da campa para o embarque. Por aqueles dias ainda
se marcava lugar no balcão, na ocasião do ‘chequim’. Pedi janela. A atendente
me respondeu dizendo que só havia sobrado uma janela, na última fileira, aquela
aonde a poltrona não reclina e que fica de palmo em cima com os banheiros. Me
dei foi por satisfeito. Estava na conta do nosso atraso essa prenda. Peguei a
vaga. Íamos atravessar a cordilheira dos Andes e por causa de uns dramas
pequeninos de últimas poltronas eu é que não ia perder o espetáculo grandioso
das montanhas. De jeito e maneira.
De
modos que já estou passado na casca do alho de viajar me batendo com os
desconfortos da última fileira do avião. Por isso não queimei as piriricas quando
no aleatório para a viagem mais recente que fiz, fui lançado para a mesma
colocação. É certo que reinei numa insatisfação por jogarem os avós e a netinha
no fundão, mas um outro e dramático fato daquela viagem de regresso do Peru, me requereu mais atenção. O curto tempo de
conexão.
Agora
desta vez o cuidado era com a troca de avião em Brasília quando tínhamos
minguados 50 minutos para sair de um e entrar noutro. Com criança, bagagem de
mão, um estirão a vencer às carreiras e o demorado desembarque de mais de 200
passageiros.
Sou
desses. Espírito cartesiano. Dou maior valor no xis aventureiro lançado ao
encontro com um ipsilone, de espera atenta, num cantinho certeiro do espaço.
Acredito, em qualquer combinação, na geração de um inequívoco ponto P,
objetivo, absoluto e dotado de algum sentimento. Daí que, dias antes da viagem,
as noites se tornaram mais curtas, o sono dava lugar a simulações de situações
limites, continhas, avaliação de imprevistos, julgamento antecipado de
eficiência da infra-estrutura do aeroporto e da companhia aérea. Preocupação
latente e insistente com os detalhes da viagem. Agendei documentar, filmar
tudo, cada etapa do vôo. Caso perdesse a conexão teria provas suficientes para
demandar os operadores do sistema.
Do
meio por fim, encaminhei um plano de ação. Mapeei o aeroporto de Brasília,
localizei os píeres, possibilidade de desembarque em cada um deles, estratégia
de deslocamento. Fez parte do plano de ação também, uma pesquisa sobre o tempo
de deslocamento entre os píeres. O destaque é que a quase totalidade dos vídeos
que achei na internet é desprovida de funcionalidade. A maioria retrata o lado
recreativo das conexões, exibem vulgaridades, registros vazios de finalidade. Nada
sobre os aspectos práticos de uma conexão, como a distância dos portões e tempo
de caminhada entre eles. Até que achei um perfeito. Um único vídeo útil
indicando a duração da caminhada de um píer a outro. Captei a mensagem, 11
minutos. Agreguei a informação às minhas continhas.
Já
na hora do embarque aqui em Belém, a dica. Enquanto esperava a chamada, medi o
tempo de desembarque de dois aviões que chegaram. No máximo, 15 minutos. Mais uma
parcela para calibrar minha soma de tempos.
Meus
aperreios, minhas ações, noites de sono perdidas e as continhas, sem hesitar,
são tidas aqui na família como sinais de ansiedade, apreensão e preocupações
nada normais. Aqui ali, ouvi orientações para eu me aquietar, deixar tudo pela
providência divina e levar a vida na boa.
Não
desapeguei das minhas manias. Afinal, admito que ser cartesiano. Um articulador
cronometrado, para mim é natural. Combinar xises aleatórios e ipsilones comprometidos,
entendo que sempre gera um ponto certeiro no espaço, dotado de personalidade. Sou
normal eu. E, então, deu tudo pelo certo na conexão.
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