A mensagem
Lembra muito bem
o dia que chegou ao garimpo. Vinha de uma jornada de mais de uma semana
vencendo as corredeiras do Tapajós, os atoleiros da Transamazônica. A saudade
Sem experiência,
ombreou-se ao amigo que o acompanhava na peleja. Tinham o sonho de voltar para
casa ricos. Logo se adaptou, habituou-se a seguir o veio. Entendia os sinais que
o ouro emanava.
Quatro anos haviam
se passado e a fortuna não chegara. O amigo, depois da sétima malária,
desistiu. Fez as contas, tirou o saldo e voltou pra Belém. Estava só. Ele e seu radinho de pilha.
As ondas que
chegavam ali traziam o bom dia de Edelson Moura e Márcia Ferreira; os
dramalhões de Artemisa Azevedo; as historinhas infantis de tia Leninha. Era a
Rádio Nacional da Amazônia aquecendo lembranças, alimentando vazios, reclamando
presenças. Todas as noites, uma infinidade de mensagens ganhavam os céus a
procura de silenciosos destinatários.
Tinha a
esperança inabalável do garimpeiro empedernido. Porém, não menosprezava de todo,
as dores do coração. À noite, colado ao seu radinho de pilha sob a cantilena
monótona dos mosquitos volteando a lamparina, mordia os lábios, cerrava os
olhos, entoava cantigas tristes bem baixinho, ali no fundo da rede. Ouvia com
irrevogável empatia o rogo desesperado de mães para que filhos distantes,
sumidos por anos e anos, voltassem pra casa.
Era irredutível.
Sem o brilho amarelado do ouro no comando, permaneceria em silêncio, sofreria,
viveria apenas a vida dos outros pelas ondas do rádio.
“Bom dia,
Amazônia!” Pressagiavam os locutores da rádio que reverberava o otimismo pela
mata naquela manhã de um Abril molhado. Desceu para o trabalho. Sem nenhum
motivo explicável, tirou todo o maquinário do canal pedregoso, fez um corte no
barranco mais acima, liso e instável. Esperou que uma boa quantidade de terra
se deslocasse e daí em diante, ligou os equipamentos para explorar aquele
cerqueiro. Passou o dia todo tratando aquela areia fina e enferrujada da
margem.
À noite, cumpriu
o rito. Lamparina, mosquitos, ouvido colado ao radinho, empatia. Num repente,
foi tomado por uma instabilidade incontrolável. Uma alegria-tristeza tórrida,
destruidora. Pelas ondas do rádio, uma mensagem de sua mãe chegava ao seu
coração.
Adormeceu e
sonhou que, animado por um “Bom dia, Amazônia”, ao despescar a mesa
concentradora da “cobra fumando”, explodia de felicidade. Nunca tinha visto
tanto ouro na vida.
Ficou rico no
sonho. Fez as contas, tirou o saldo. Era hora de voltar pra casa.
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