Vento de revestrés
Já
havia acontecido no ano passado e aconteceu de novo. O chiado da chuva veio
di’cunforça, anunciando o pampeiro. Me aviei pra fechar a janela e de prima
estranhei o chuviscado forte pra dentro de casa. Dei de olhar pro tempo e,
vigi, constatei. Corri pra sala e chamei a atenção da família. Nem maldavam. A
chuva estava vindo de revestrés. Num adianto, mesmo que me molhando todo, à
varanda, fui me certificar do ‘fenômeno’. O meu indicador é um açaizeiro que se
eleva de um dos quintais da avenida Pedro Miranda. Pelo comum, é atacado pelo vento
e os ramos jogados pro rumo da feira da Pedreira. Essa dobra sinaliza um
sentido de propagação do vento, aproximado, para o Sul. Mas nesse dia, o bicho
tava era descaindo pro outro lado, assim, dobrando-se para os lados da Dr.
Freitas, meio que sentido Norte. Coloquei foi todo mundo pra se molhar na
varanda pela necessidade de testemunhas, de cumplicidade nas provas daquele
fato raro. Para registro, essa chuva ao contrário aconteceu no dia 27 de junho.
De lá pra cá, o pampeiro não se aquietou. Levou a cidade ao fundo, inclusive,
várias vezes. É de se esperar que, por agora, já nas beiradas de julho, vai
estiar.
Tive
que tive de escrever sobre este tema porque me bateu um tique-taque atrás das
orelhas. No significado dito de tempo mesmo e também de relação com eventos
paralelos: as fortes chuvas com raio e tudo, de final de tarde que nos chegaram
até a biqueira de julho; o frio intenso no Sul; o deslocamento da ZCIT; a cheia
do rio Amazonas e este vento de revestrés do dia 27.
Bora
então triscar no tempo. Olha que coisa. Esta chuva ao contrário, eu já tinha
visto. Aconteceu no final de novembro do ano passado. Exatamente na época que o
inverno amazônico deu as caras. Não é uma conclusão científica, é apenas uma
cisma interessante. A chuva ao contrário está marcando o início e o fim do
período chuvoso aqui na Amazônia pedreirense. Obviamente que para admitir esta
observação como regra, há de se ter a dita recorrência. Vamos aguardar os
próximos capítulos do clima. Mas eu, assuntando uma brisa aqui, um redemunho
ali, um relampejo acolá, cruzados por trovões e securas no ar, arrisco prever
que a chuva deste ano começa de novo, em novembro. Bori casar as fichas?
O
que valida a minha previsão é o fato dela, para mim, ser a normal. Tenho aqui
nos meus registros: tempo seco a partir de julho, chuva da Santa em outubro e
início de dezembro já trazendo o pinga-pinga o dia todo. Isso é que é para mim,
o usual, a rotina e não aquela presepada assustadora registrada em 2022, de o
inverno amazônico calhar de começar somente nos últimos dias de janeiro. Vôte!
Tava muito errado mesmo. Parece que as coisas agora estão se ajeitando.
Não
me tenham como presunçoso, aquele que se queixa ser o que a folhinha do ano não
marca. É que há um sinal. Este ano, depois de um bom tempo contado, não temos a
atuação do El Niño e nem de La Niña no processo de ressurgência no Pacífico. E
este é um fator de relevo. Talvez a gente tenha desapegado, esquecido mesmo
como são os conformes do clima depois de atípicos sucessivos no oceano.
Estou
trabalhando num livro, que pretendo lançar assim que o bom pai me der inteirar
a providência financeira da edição, por título “Parece até que vai chover”. São
crônicas que traçam harmonias de saberes. O conhecimento popular e o acúmulo
científico. Os textos exploram os humores do clima. Trazem eventos e cenários
que chamaram a atenção nos últimos tempos. As crônicas que detalham os
fenômenos são datadas, exatamente pra servirem de referências. De lá foi que
tirei a informação de um inverno começando só em janeiro e a cheia do Amazonas no maior pico ocorrendo em
maio. Por aí a gente tira as distâncias para o que temos hoje. Estamos nos
primeiros dias de julho. Pelo certo, chuva agora, só no final de novembro. Bora
casar? Se vier com o vento de revestrés, ganho uma prenda.
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