Amar e outros medos (abraço de tamanduá)
O estudo
do movimento literário não faz parte mais da grade do ensino médio. Fiquei
chocado quando soube desta triste realidade. Porque no meu tempo de Escola
Técnica, fazia. Conheço o Victor Brecheret dessa época, ali pelo início da
década de oitenta do século passado. E nem foi pelo que ele escreveu. Era
artista plástico. E sim por ser um dos
nomes de destaque na Semana de Arte Moderna de 22.
Agora,
depois de formado, me embrenhado nas matas dessa Amazônia deslumbrante,
navegado rios caudalosos, velozes e furiosos; neste instante da vida em que
minha caminhada cheia de repentes e aventuras se apascenta e se aquieta nos
fachos pelas matinês acaloradas de Belém, pleno domingo circulando com a
família pela Cidade Velha, olha lá quem encontro. O Moderno Brecheret com suas
obras e inspirações a olhos marejados e vistos em exposição no Museu do Estado.
Entre as criações mais instigadoras, a peça “A luta da onça e do Tamanduá”, me
mundiou. Consta ser uma ressignificação da natureza que eu nem que me derrubem
a bufete conto aqui como é que é. Dou é a dica: vão é logo lá que a exposição
já está indo para os finalmentes.
E
pois bem. Calhou de a Escola Modernista de Literatura nos ser apresentada em
aulas ministradas pelo adorável Alfredinho. Nosso professor de Português no
último semestre da disciplina. A ETFPa encaixava na grade os relevantes
movimentos artísticos representados em Escolas nas suas particularidades
específicas. E era uma sequência que na formalidade cronológica culminava com o
Modernismo, e também, na culminação do curso. Iniciávamos com os clássicos
portugueses, Camões e os Autos Teatrais. Descobríamos o Brasil do Boca do
Inferno Matos Guerra. Passávamos de ano e nos encontrávamos adiante com os Árcades,
mais a frente com os corações esmigalhados dos Românticos; Do meio pro fim,
Machado, Eça, as peripécias comuns dos Realistas e o doce azulado dos Simbolistas,
até... O Brasil brasileiro prospectado pelos Modernistas.
Quando
nos falava do surgimento de uma narrativa Modernista, o professor Alfredo
tomava o cuidado de contextualizar e cravar na Semana de Arte Moderna de 22, o
grande momento das várias formas de arte. E nos dava a escalação: Mário de
Andrade, Oswald de Andrade, Villa-Lobos, representantes da música e da
literatura; Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, e Victor Brecheret compondo as
harmonias das artes plásticas. Não esqueço essas aulas. Até hoje ainda monto o
time. Faltam alguns aí na minha lista. Eram bem mais que uma onzena.
Eu
entendo a arte, dentre outras coisas, como um ato de amor. E estendo essa minha
impressão ao medo de amar. Quantas inesquecíveis histórias foram enredadas
nesta trama humana tão desafiadora que é apegar-se a outra alma e mais ainda,
sem certeza alguma, numa união de risco altíssimo, de durabilidade sem garantia
alguma. Qual a sensação, o que levaria para a vida um estudante do ensino médio
ao dar com um final arrasador articulado por um Camilo Castelo Branco; ou uma
terceira via para o sofrimento, arranjada em narrativas abusadas, por Eça de
Queiroz? Que medidas dar ao coração neste passar do tempo até as Angústias de
Graciliano e os conflitos de Riobaldo?
Retirar
o ensino da literatura e das manifestações da arte nas possíveis composições
estéticas, do ensino médio, em mim me realça o medo de nos perdermos no leve e
frágil presente e abrirmos mão de um futuro. Nos reduz as oportunidades de
conhecer todas as formas de amor. Penso que nos confina no mimetismo asfixiante
de Brecheret em representar a luta da onça com o tamanduá.
Não percam a exposição. Tá no MEP, por outra, conhecido como o antigo palácio do governo, (e sabe, bem que poderíamos ter um museu também aqui na Pedreira. E nem precisaria ser um antigo palácio).
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